O ESTRANHO

O estranho no sentido etimológico da palavra, é exterior.

Bem, hoje vi uma postagem na mídia social de um grande escritor que admiro desconsiderar esse elemento. E ele desconsiderou, fatalmente, por ser um naturalista (materialista) e também socialista (ainda que muitos socialistas mantém crenças imateriais, não é a maioria. Mas não entrarei nesse aspecto por hora).

Assim, ao afirmar que está havendo um grande movimento mundial de opressão contra oprimidos apenas aparente, justificando essa aparência com o fato de que as minorias resistem por um bem coletivo natural do amor, não considerou meu colega que a vontade de cada um parte dessa massa homogênea (no conceito de Ortega Y Gasset), por ter sido contaminado (e não ser a delas próprias, individualmente).

E não só isso, quando despreza esse elemento de contaminação da vontade por uma ideologia pronta, desconsidera ainda o elemento estrutural do ser-humano: a ideia como algo imanente. Algo não materializado, visto pelos sentidos físicos.

Explico. A práxis social defendida pelo marxistas entende que a ideia da sociedade é a manifestada, é material. Foge, pois, o elemento imaterial da ideia, aquele sentido de que um fato pode ter causas supra naturais (ou sobrenaturais mesmo) (Óbvio que um pensamento que parte do pressuposto de negativa absoluta e ensandecida de Deus e etc).

Assim, temos no pensamento do meu colega escritor, por óbvio, um elemento de reconceituação das palavras típico das escolas socialistas, com um metodo e objetivo já manjado: colocar na literatura novos conceitos e testar a absorção social pela praxis efetiva. Isso é claro, patente.

Mas, tem algo muito mais perigoso, latente.

Sim. Meu colega escritor se esqueceu de que o estranho, que vem de fora, esquisito de se explicar, é componente do ser-humano. E dá graça à vida-humana. É o famoso tema do mistério, do oculto, da descoberta, tão característico do cinema mundial. (O que, por certo, já vi atrapalhar na estruturação e conteúdos de seus muito bem escritos romances)

Além disso, esse elemento do mistério, provocando busca pela revelação, causa na pessoa que busca, esperança, sentido para a vida material tão acachapada.

Para meu colega escritor, o estranho não é admitido em hipótese alguma, na sua linha de interpretação do fato social.

Não seria, leitor, a causa, pois, a base de todo o ceticismo, pós-moderno, esse relato que faço, ilustrativo com meu colega escritor?

E com ele sua destruição do humano, porque ausente seu elemento estrutural, o espírito, o imanente que pode ser transcedente, pode e deve sim ser parte da vida-humana?

Não seria essa, exatamente, a causa de tanta falta de criatividade, de graça, nos dias hodiernos?

Pra mim, meu amigo está materialmente preso.

Pena que essa pequena divagação, em forma de crônica não possa ser enviada a ele e ele me responder, e o diálogo ser aberto em busca da verdade (porque tem o elemento de imaterialidade nela!)

Mas, enfim, ele não entenderia mesmo esse "estranho" aqui.

Alexandre Scarpa
Enviado por Alexandre Scarpa em 16/11/2018
Reeditado em 17/11/2018
Código do texto: T6504149
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