O CÁLCULO RENAL
Hoje pela manhã acordei, como já fazia anos, com a dorzinha abaixo da barriga, à esquerda. Ah, que dorzinha chata. Era a lembrança de minha pedrinha no rim. Ela é circular, chata, dominadora.
Procurei esquecê-la, tomando bastante água. Afinal, de acordo com os últimos exames, feitos há mais ou menos três anos, tratava-se de simples "cristaizinhos", conforme palavras do doutor cujo nome sequer lembro.
Ora, desde então os esqueci, decidindo-me por tomar três litros de água ao dia, conforme orientação, o que os expulsaria, naturalmente. Mas pelo jeito, eles estão aqui...será mesmo? Será que não deu certo? Ou será que criaram-se novos cálculos, ou estão se movendo?
Não quero ver. Não quero mais exames. Já sei, não reclamarei mais da dor a ninguém e voltarei aos três litros de água diários. Talvez, ante à correria do cotidiano, eu tenha tomado menos água que o necessário.
Mas, ainda há um ponto a ser considerado. E esse sempre é o mais perigoso. A situação simbólica, suas representações, causas e consequências.
Então, quem sabe as dorezinhas, causadas quiça pela desordem de uma vida desregrada, insistam em retornar tempos em tempos como alertas de coisas piores? Ou, quem sabe, simplesmente, de coisas a serem refeitas ou feitas.
Refleti. E parei de reclamar. Ninguém precisa dizer o que você tem, Alexsander!
Mas esse pensamento me pareceu pueril demais. E uma voz da consciência, aquela mesma que olha a realidade não tão irresponsável, colorida, mais acinzentada, madura me disse: "cuide por descobrir suas dores. Que ela não seja um câncer. E se for?".
Ai, meu Deus, pensei. Acho que preciso fazer novo exame. Vou pensar. Afinal acho que já está na hora. Tá mesmo na hora de ver se a situação não mudou por outras intercorrências ou desregramentos que cometi.
Vou fazer esses exames. Sem reclamar a ninguém.
As dores, em geral, enfim, precisam ser analisadas, sem reclamos precipitados.
Para o bem geral de todos.
Começando por mim.