Um bolo para Imperatriz
Um Bolo para Imperatriz
É evidente que em festa de aniversário haja bolo, e natural que as pessoas presentes comam do mesmo, até aquelas menos chegadas não deixem de experimentá-lo, é uma questão de honra. Aqui em Imperatriz, onde tudo acontece, a cidade não fugiu à regra. Coma iniciativa da prefeitura, mais precisamente da primeira dama do município, e com o apoio dos empresários, foi preparado o maior bolo já visto, Pois sempre aumentava a cada cada aniversário.
Ao contrário de anos anteriores, o feriado quase não chegou a acontecer, mas graças a intervenção do Prefeito que determinou que as comemorações alusivas ao aniversário da cidade , fossem realizadas no dia dezesseis, quinta-feira e não mais transferida para o início da semana como era costume com outras datas comemorativas..
Fato é que na hora “H”, o decreto foi revogado e transformado em ponto facultativo.
Após um expediente normal, saí do trabalho, dirigindo-me à Praça Tiradentes, palco escolhido para a festa, que a esta altura já se encontrava repleta. O carro de som comandava a animação motivando e gerando grande expectativa na multidão que se acotovelava nas calçadas.
Uma banda de fanfarra, ao comando do maestro, tocava hinos e marchas para o grande público que sorria e batia palmas aclamando cada porção, que chegava. Protegido por cordas em toda sua extensão, destacava-se um enorme bolo com mais de 100 metros de comprimento, formado por várias partes que destacava seu patrocinador, alguns fugindo do padrão pré-estabelecido pela organização, o que era irrelevante, visto que o mas o importante era o bolo e ali estava ele: Grande, impávido e colosso!
Em meio ao empurra-empurra, ao lado de uma dessas cordas, não me sentindo bem decidi sair para um lugar melhor em que fosse possível observar atentamente o desenrolar dos acontecimentos. A multidão inquieta, insistia em passar sob as cordas não resistindo ao fascínio exercido pela grande mesa posta no meio da rua.
Convocados pelos alto-falantes, a policia com um efetivo reduzido frente ao número de munícipes, fazia o possível para manter a ordem e as pessoas por trás da demarcação. Finalmente com a chegada das autoridades e convidados, deu-se início ao evento com os discursos de praxe, bem ao estilo do personagem Odorico Paraguaçu da novela O Bem Amado.
A seguir foi iniciada oficialmente a programação. Com a cobertura de Radio, TV e tudo que tinham direito, os colaboradores posicionaram-se para começar a distribuição, que seria feito em pequenas fatias entregue ao povo.
Foi tocado o tradicional parabéns acompanhado com grande fervor e oferecido ao mandatário, o primeiro pedaço, que o engoliu com certo incômodo uma vez que as pessoas não mais se continham em seus lugares e começavam a invadir a área reservada.
Tudo parecia correr bem, porém a aglomeração aumentava e avançava em direção à mesa. Cercado por tanta gente que se mostrava faminta, o pequeno grupo de serventes não foi suficiente para atender a todos...
Vi pessoas arrancando grandes pedaços, alguns com bacias e baldes, e até uma senhora que pôs uma porção maior na saia. Um rapaz mais ousado pegou uma parte inteira, pois na cabeça e correu. Passava à minha frente quando alguém gritou: Olha o tarado!
Após várias tentativas de aproximar-me, desisti subindo em um banco próximo ao palanque, de participante “Caxias”, que aplaudia e cantava, restava-me apenas contemplar a imagem do verdadeiro caos.
De nada adiantava os apelos feitos pela organização que em cima do caminhão, gritava: calma! Calma! e com ironia dizia ter bolo para todos.
Era interessante ver os cantores repentistas tentarem contornar a situação com versos de improviso. O locutor voltava a clamar e pedir ao povo que mantivesse a ordem e aguardasse sua vez...
No corre-corre, alguém teve a idéia de jogar pedaços para cima. Foi a gota que faltava, viraram-se as mesas da enorme passarela...
A polícia resolveu agir, e o cenário antes festivo transformou-se quando os cassetetes entraram em cena e em questão de minutos, tudo estava no chão, sendo pisoteado os restos do feliz aniversário..
Paulo Ivan - Imperatriz, Julho de 1987