"Vida, vamos nós e não estamos sós..."

Ah, que maçada os afazeres, aquilo que, mesmo contra a vontade, temos que fazer, porque tem vencimento marcado, não podemos adiar... Mesmo com aquela disposição de Macunaíma ("Ai que preguiça!), saímos, sim, do nosso cantinho e vamos cumprir o trato, a obrigação, o imposto que pagamos para viver, quase sempre em insegurança e sem sermos beneficiados pelos poderes públicos.

Nos dias decisivos, nos vencimentos, quando é mesmo necessário cumprir essas obrugações, não há como não acordar de mau humor. E são várias vezes durante o mês. Mas, como dizia um velho muito engraçado de Arcoverde, "se a comida e essa, pra que engulhar?". Mas engulho, como na marra, cuspindo fogo. Puto da vida.

Outro problema é nas vésperas de cumprir esses tratos ou obrigações, não consigo dormir bem. Pelejo mas não consigo, e não por causa da asma, é pior, a asma passa com a bombinha, mas a revolta com certas obrigações que julgo absurdas e injustas, não tem remédio, conto carneirinhos, rezo, rebolo na cama, ando, tomo chá de camomila e nada... O sono só chega quando quer, quase rompendo o dia, um sono rápido, sem nem sonhar. Fico ainda com mais raiva porque adoro sonhar, confesso que sou colecionador de sonhos. às vezes são do tipo realismo fantásstico.

Na minha terra tinha uma velha que era viciada no jogo de bicho, e jogava de acordo com os sonhos, até interpretava alguns sonhos, se alguém,por exemplo, sonhava com fulano que era brabo ela mandava johgar no burro, se sonhava com uma fofogueira do lugar, era cobra, se era um conquistador era urso, se era amsostrado era pavão, se o cara era corno era carneiro, se a dona costurava para fora era cabra... E algumas vezes acertava, ma vez jogaram tanto na cobra e deu, resultado a banca quase quebra.

Também, confesso, sou viciado no jogo do bicho, sempre faço a minha fezinha, dia desses ganhei uns trocados jogando no pavão, é que sonhei com um amostrado da minha terra. amostrdo e frouxo, sonhei ela levando uma pisa no meio da rua. Mas os sonhos meio estranhos e os maravilhosos, inclusive os viando em tapete voador, eu assim que acordo vou logo anotando numa cadernetinha porue sonho eu esqueço muito ligeiro.

Hoje, dia de pagar várias contas, me acordei, pasmem, tranquilão, sem mau humor. Motivo: sonhei um sonho (redundância?) breve mas arretado, estava num grande salão, lindo, todo mundo alegre e satsfeito, as pessoas dançando um bolero que adoro e quem estava cantando era Maria Bethânia, so deu para ouvir um verso: "Ao som desse bolero/ vida vamos nós/ E não estamos sós/ Por favor!/ Mais auma vez, recomeçar...".

Encarei como uma mensagem de resistência. Juro. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 03/11/2018
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