Confissões de um assassino
Preciso confessar alguns assassinatos
que cometi numa impune jornada
que até hoje lateja sem dó, nem perdão.
Fui matador cruel,
agindo armado de ódio louco,
deixando nada de mim de fora.
Matei sonhos que poderiam se erguer lindos,
matei desejos que mereciam voar livres,
matei possibilidades que fariam o mundo sorrir.
Matei afagos antes de nascer,
matei suores que virariam a dor do avesso,
matei paixões que validariam os vazios da alma.
Matei versos roubados de Deus,
matei esperanças que nem sabiam engatinhar,
matei gostos que poderiam desnudar minhas farsas,
matei pegadas que lembrariam minha fé.
Hoje, recolhido em mim mesmo,
trago de volta cada gomo daquelas matanças,
e deixo o choro correr livre e solto,
numa vã tentativa de me perdoar,
de me reverter, de me reencarnar,
de me ter de volta.