Dia de Eleição

Já votei, simples assim. Voto no Colégio Damas, vizinho do prédio onde moro. Oito da manhã já estava na porta, não demorei um minuto pra votar. Fui o segundo na minha seção, o primeiro foi minha esposa. Confesso que, mesmo sendo infenso às emoções na política, senti uma emoçaozinha. Sou um veio normal. Nao, nao fui fantasiado, detesto fantasia, mas minha esposa botou a estrelinha e o adesivo do PT, na minha casa que é petista é ela. Desde a fundação do PT, às vezes até arengamos porque eu discordo em uita coisa do partido dela, algo absolutamente normal. Casal que não briga e nem discute não vive junto 40 anos. Já pensaram numa petista terna, amorosa e pacífica é ela, mas nao falem mal do Lula perto dela, vira uma siri. Juro.

Mas antes de ir votar, logo que acordei e tomei um café tipo Elba Ramalho, com tapioca, queijo asssado, cuscuz e ovos estrelado (faltou, infelizmente, um pedacinho de carne de sol e macaxeira), fiquei sentado na cadeira de balanço recordandoas eleições de antigamente.

Lembrei, pasmem, do tempo que se votava com as chapinhas com os nomes dos candidatos. Boatava-se as chapas dentro de um envelope e o colocava dentro da urna. Era uma guerra a troca de chapas no dia da eleição. Remember? Só os da minha geração lembram. Vou contar algo hilário: certa vez dentro do envelope das chapinhas encontraram um preservativo. E alguns eleitores escreviam bobagens, porcarias, calúnias nas chapas. Os canalhas sempre existiram, só que com a urna eletrônica é impossível esse tipo de absurdo.

Mas a eçleição do passado era, na minha opinião, mais divertida. A começar pela campanha que era muito mais participativa. E até os candidatos tinham mais carisma. Vouaté ser mais contundente: os eleitores eram mais veementes do que os de hoje.

Eu gostava de ver principalmente os matutos com suas roupas de dia de festa, empalitozados, calçado em sapatos apertados, alguns até manquejando devido aos calos. De gravatas tortas no pescoço, mas ali nas filas, vaidosos, portndo-se como verdadeiros cidadãos, muito ais patriotas do que os candidatos. Eu achava esse pessoal dos sítios, lindo. Até hoje, se me fosse possível, gostaria de vê-los chegar às seções eleitorais para, como dizíamos na época dos anos dourados, "perder o prestígio". Eu ainda fico revoltado com os que enganam esses homens e ulheres simples e honrados.

Era também lindo ver a pose e algumas pessoas da periferia que só iam votar se os candidatos fossem buscá-las de automóvel, de preeferência novo e levar de volta para casa. Vi pessoas se negando a entar em jipe ou carro velho. Só iam se fosse em carro novo.

E aquela zoada nas portas das sessões, a tal boca de urna? Era uma festa. De vez em quando, no centro, a gente ouvia alguém dizer:"Tão roubando na sessão do colégio tal". Não raro era mentira. Porque uma coisa era certa: o eleitor, ontem como hoje, só vota em quem quwr. Pode haver compra de votos, aliciamento, prsaão e etc e coisa e tal, mas o eleitor só vota, repito, em quem quer.

E depois de Inêsw morta, ou seja, da votação, vinha a apuração. Asurns dormiam no Fórum e v´rios militantes ficavam de guarda. Quando começava a apuração era aquela tensão. As rádios colocavam aqela musiquinha com as cornetas, aquele taratatá, e tome resultados. Uns comemoravam, outros ficavam tristes. E havia a passeta da vitória.

Os tempos mudaram, há ainda alguma coisa do passado, principalmente nas armações dos políticos. Mas as campanhas e eleições de hoje não têm mais o vigor, o frenesi e as pecualiaridades folclóricas do passado.

Mas hermanas e hermanos, é preciso votar, aliás, é obrigatório votar. Então que se vote segundo a consciência. E com qualquer vestimenta digna, eu, por exemplo, foi de bermuda e camisa de meia, calçado nu chinelão velho. E cumpri com o meu dever de cidadania. Agora, em vez de ficar peruando notícias sobre a eleição vou dar uma saída com meus irmãos e tomar umas biritas ouvindo uma roda de samba num morro distante. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 28/10/2018
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