Lisarb, o trapezista

O circo esta cheio, as pessoas uivam excitadas, frenéticas e num frisson assutador de ódio. Estão ansiosas esperando o "grand finale", o salto tríplice sem rede de Lisarb, o trapeziasta odiado. A massa nem sabe porque odeia o trapeziasta, mas o Grande Irmão ordenou, acionou os cordéis e, assim, as marionetes obedecem, querem assistir e aplaudir o salto mortal, sem rede, o salto para a morte certa, a execução. As pessoas estão com pouco pão e o circo ajuda a esquecer a comida.

Lisarb foi acusado, acuado, julgado e condenado, sem provas. Pra que provas se os juízes têm convicção da culpa? Era só o que faltava, se prciar de provas para liquidar um trapezista. Lisarb está tranquilo, aceitou a condenação, sabe que nao pode se rebelar, não há meio. Caminha pelo corredor da morte, nesse camainhar lembra de repente de toda a sua vida, tudo de trás pra frente como seu nome, das viws perseguições, transaões tenebrosas no breu das tocas, do ataque a Constituição dos golpes, da massificação da opinião pública que transformou mentira em verdades absolutas, da alienação do povo que exige uivando seu sacrifício, via salto mortal sem rede. Chega à escada, sente um pouco de tremor nas pernas e tontura, mas logo passa, tem que cumprir seu destino. Sone até a plataforma do lançamento, os tambores rufam, a massa silencia, ele pega no trapézio, respira fundo, entrega tudo a Deus e se lança no vazio, e vai caindo, caindo, caindo até se estraçalhar no chão. A platéia urra. Então uma voz no alto-falante anuncia que Lisarb morreu. A platéia vai saindo, passou a raiva, o rancor e o ódio. Vão dormir com fome. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 26/10/2018
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