Mortallha
E o assunto começou com um terno para ir a um casamento.
- eu vou alugar um terno pra ir no casamento, diz meu marido. Passou a época que se comprava um terno pra uma festa e se guardava pra ir pra última morada!
É mesmo, respondo sem pensar muito, mais levada pela praticidade do aluguel.
José, meu marido retoma a conversa: pois é, por que será que era costume enterrar as pessoas de terno? Conheci gente que nunca tinha usado um terno na vida é era morrer que a família gastava o que não tinha pra comprar o terno completo e até sapato novo. Pra que? Acho até que era capaz dos coveiros despir o coitado pra ficar com a “beca” nova!
Aí credo seu José, diz sorrindo nossa empregada Lúcia.
Ele prossegue: quando for a minha vez, quero ir como meu amigo Marcelo– camiseta do Inter (Internacional-RS, time do coração da pessoa) e era isso, nem sapato precisa, conclui ele.
Então fiquei pensando na formalidade da morte. Um ritual de despedida, choro, sofrimento, lembranças de como era a pessoa, mas aquele corpo tem que estar nos “trinques”.
Se acredito na vida após a morte, não quero chegar lá desarrumada?
Se não acredito, por que dá arrumação? É para não deixar má impressão a quem está ali me velando?
Penso que é por respeito pela pessoa amada que partiu. Se escolhe a melhor roupa, aquela que ela mais gostava como uma homenagem, com o carinho e amor incondicional. Não importa se é de terno, camiseta do time, ou aquela camisa, vestido ou blusa, importa é que quem está ali guarde no coração a pessoa por inteiro, alma e corpo, tudo fará parte da lembrança, que acalentará a saudade eterna!