Quem cuida de quem
Eis um assunto que mexe muito comigo – o avanço da idade – a velhice, principalmente dos pais.
É fala constante de que os pais viram filhos dos filhos quando ficam velhos. Não concordo muito com isso porque entendo que os filhos, desde que nascem, são preocupação constante e é com eles que os pais exercitam a arte de ensinar. Já os pais detêm o conhecimento de toda uma vida, então os filhos vão ensinar o que para eles?!
Ensinar que eles já não são mais os mesmos? Que o dinheiro necessário a suas sobrevivências já não lhes pertence mais, mesmo que tenham trabalhado duro para chegar a tão almejada aposentadoria? Que precisam entender que agora quem “manda” são os filhos? Que já não se governam mais?
Ou, ainda que já estejam adultos, sera que são os filhos que continuam aprendendo com os velhos pais?
Lembro-me de muitos momentos vividos com meus pais e que foram totalmente diferentes com cada um deles. Meu pai quando começou a “parar” a vida ativa aceitava a ajuda dos familiares que se propunham a diminuir seus sofrimentos com certa docilidade que facilitava a convivência, já minha mãe não aceitava as limitações impostas pelas doenças recorrentes da idade. Dona Maria queria voltar a trabalhar, queria voltar a enxergar, queria comer e beber como sempre fez, queria cuidar da casa, dos netos, da roupa, enfim queria ser quem sempre foi.
Aprendi com ambos, até o final de suas vidas.
Aprendi com meu pai que não é humilhação nenhuma deixar que seu genro lhe ajudasse no banho; que um neto aumentasse a mangueira do oxigênio para que ele pudesse se locomover melhor dentro de casa; que podia aproveitar a cadeira confortável ganha da neta, sem ter vergonha de ficar ali repousando; que a filha cuidava de seus ferimentos e limpava seu catarro, sem nojo nenhum, mas sim que o fazia com o carinho que ele merecia.
Aprendi com minha mãe que ser forte até quase o final da vida, deixa como legado a necessidade de lutarmos por aquilo que queremos, enquanto estivermos aqui neste plano. Aprendi que, mesmo sendo forte precisamos sim da ajuda de quem se propõe a estar perto daquele que já não consegue mais cuidar do básico, como de sua higiene pessoal e que, por vezes, tem cheiro de “gente”.
Acredito que consegui – conseguimos – porque não estava sozinha, a tratar de nossos velhos pais com respeito, para que eles não perdessem sua dignidade. Poderíamos ter feito bem mais ou bem melhor? Com certeza, mas tivemos pai e mãe só uma vez na vida. Quem sabe, se tivermos que cuidar de outros velhos, possamos fazer melhor! A pergunta que fica martelando é: quando é que se começa a precisar de ajuda?!