O Universo não cabe numa casca de noz
O Universo não cabe numa casca de noz
Hoje acordei lendo uma apreciação sobre a prática do Eneagrama, uma técnica preconizada por Gurdieff, e que se baseia no despertar das potencialidades latentes no ser humano.
Este pensador objetivo, o Gurdieff sobre quem tomo como mote e glosa, não dá muito valor às coisas práticas da vida, pouco afeito que é a filigranas filosóficas, o que, não obstante, não faz de seu trabalho algo desprovido de um sofisticado sistema de pensamento.
O que me chamou a atenção foi a maneira como Gurdieff pensa o Universo, a qual, por mais original que queiramos esse pensar, acabará sempre enquadrada em nosso desejo de formatar uma explicação para o que pensamos (ou desejarmos) carecer dela, dessa tão requestada lógica explicativa.
Já é um ritual, para mim, frear o alazão da minha impaciência e ler até o fim os postulados de um dado pensador, por mais que estes me sejam difíceis de digerir, coisa que não está sendo muito diferente com Gurdieff. O que retiro dele, em meu severo e invejoso filtro, é a concepção de que a personalidade é uma capa que vestimos, e que podemos trocar esta capa quando percebemos que a mesma pouco ou nada contribui para a nossa evolução, quando nós tornamos despertos de nosso estado de adormecimento.
É óbvio, quero crer, que são muitos os mestres que trilham por este caminho do despertar de nossas potencialidades. A lista vai de Khrishnamurti, Yogananda, Carl Rogers, Carl Jung, Wilhelm Reich, G. O. Mebes, Blavatsky, Annie Besant, etc... todos eles, de formas variadas, abordando o mesmo tema.
O que me chama a atenção é quando um ou outro desses luminares do saber tenta enquadrar a Criação, que em si é um Todo caótico, dentro de um sistema padronizado em que os eventos ocorrem todos numa sequência lógica, do tipo: o espírito veio de uma dada divindade, involui em sua experiência terrena para depois evoluir e voltar ao seu Criador. Com poucas variações o tema central é este que citei. Para validar essa tese surgem as teorias mais mirabolantes, como a de que, por estarmos longe de certo Sol Absoluto, a condição de letargia se instala em nós, como Humanidade, sem falar em outras ainda mais indigestão, para este sertanejo iconoclasta, como a de que a Lua se alimenta de uma certa substância que e bola dos mortos na Terra, e que por isso o nosso satélite se mantém fixo em sua órbita.
Mas, como sou bem resistente, e fui bem treinado nos calumbis de minha terra Natal, sigo em frente desbravando esse emaranhado de crenças, a retirar delas o que penso ser o melhor para a pavimentação da estrada que percorro nesta vida.
O ser humano, em sua diversidade, é deverasmente, muito atraente.
Pasargada, em uma calma manhã de quinta-feira, meados de Setembro de 2018.
João Bosco