Contra a Vulgaridade

O acusador admite ter preconceito contra a vulgaridade?

Houaiss define a palavra vulgar como sendo:

1 relativo ou pertencente à plebe, ao vulgo; popular

2 que não foge à ordem normal, não se destaca; banal, comum, corriqueiro, ordinário, usual

3 de qualidade inferior; baixo, chulo, grosseiro, reles

4 que se sabe; notório, sabido

Assim, pode-se raciocinar apressadamente que quando acusa algo de vulgar o acusador esta sendo contrário ao que tem apelo popular, ao que vem do vulgo da plebe. Assim ele poderia estar contrário, por exemplo, ao blues ou ao chorinho, formas de expressão musical bastante populares. No entanto, tudo o que o acusador está querendo é posicionar-se contra a vulgaridade da cultura atual de massa, sobretudo o neo-pagode e o neo-sertanejo. Sim, ele tem um pré-conceito sobre esse tipo de manifestação de massa, quando ele se enquadra nos itens 2, 3 e 4 das definições de Houaiss.

Por que o acusador cunhou estas palavras com o elemento de composição “neo”?

Porque justamente o samba pagode e a música caipira do sertão podem ser gêneros classificados como populares há bastante tempo. Há inúmeros exemplares destes gêneros que não caem na classificação de vulgares. O problema está justamente nessa música promovida em grandes meios de comunicação que tem apelo fácil ao popular, sem estabelecimento de vínculo forte com as raízes populares, até mesmo vinculadas mais fortemente com raízes de outros povos, confundindo identificações e assim, diminuindo a diversidade.

Por que a vulgaridade seria um problema?

Tais manifestações ditas vulgares têm como objetivo o lucro fácil das indústrias da música e não o fim educativo ou de aumento da sensibilidade do ouvinte. A decisão sobre um lançamento de um novo disco não se dá com base no valor artístico que ele possa ter, mas, sim, se ele vai ou não vender bastante e suficiente para dar lucro. A idéia não é ensinar novos pontos de vista, mas insistir naquilo que já é conhecido por todos e, desta maneira, identificar-se com o maior número de pessoas para vender o maior número de discos. Assim, pois, as criações falam do óbvio, do banal, do corriqueiro. Quando não se entrega nada de novo, para quê entregar? As manifestações chamadas chulas, que agora acontecem na música gaúcha, podem ser classificadas de vulgares, dado que falar de órgãos sexuais com tal explicitação pode ser inédito na música e por isso fazer pessoas rirem, pelo inusitado do meio falado, mas não escapa da vulgaridade de falar de órgãos que todos têm e que, portanto, qualquer pessoa sem inspiração poética alguma seria capaz de compor, bastando para isso olhar-se num espelho. Para o acusador é assim também com os sentimentos vulgares e banais expressos no pseudo-romantismo do neo-pagode e do neo-sertanejo. São expressões sentimentais que podem ser compostas sem inspiração alguma, porque normais e comuns a qualquer pessoa normal, não trazendo força da descoberta, - que pode ser chamada também de Educação - mas tão somente da identificação fácil.

Ou pode-se comparar:

“É o amor que mexe com a minha cabeça e me deixa assim...”

Com:

“Se na bagunça do teu coração, meu sangue errou de veia e se perdeu...”?