Esta crônica é uma saudade assumida e declarada   aos amigos do Recanto: 
Maurélio Machado, Malubani, Cacaubahia,Alessandra Espínola, Beth Muniz, Angela Lara,Fernanda Araújo,Juli, Diana Lorena, Tarcisio Zacarias, Luis Guerra, HLunaSoliana Meneses, Rosa Pena, Jamaveira.  


UM BANZO, NO DOMINGO

Hoje é domingo. Um domingo ainda meio com jeito de um inverno que está com preguiça de ir embora. Um domingo de sol e vento. Enquanto um aquece, o outro faz arrepiar a pele dos friorentos como eu. Coisa rara no meu currículo de dona de casa, mas entro na cozinha e enquanto aguardo a água ferver para fazer um café, fico olhando o céu através da janela aberta. Tem mil coisas esperando por mim, um roteiro que me aguarda ansioso e aflito para ser terminado, uma edição de fotos de minha sobrinha que não vê a hora de mostrar aos pais o que ela fez junto comigo, um montão de contas pagas doidinhas para se acomodarem em seus lugares de direito e eu, aqui, sem vontade de fazer nada. Diante dos meus olhos, tem um passarinho pousado na beira do telhado medindo as distâncias e escolhendo um novo lugar de pouso e eu o invejo. Como o invejo! Invejo-lhe a liberdade de chegar onde quiser, na hora que quiser, sem precisar de nada e de ninguém, apenas de suas asas e sua vontade. E eu aqui, dentro dessa cozinha, me sentindo presa com vontade de voar e de pousar em tantos lugares só pra dizer um olá pros amigos. Amigos e filhos que moram longe. Amigos que moram perto e estão sem tempo. Amigos de que eu não tenho notícias há muito tempo. Amigos cuja à presença tem sido apenas nos seus escritos. Sei que sou chegada aos repentes. Que tenho saudades urgentes. Que minha alma é falante. Que gosto dos risos constantes. Que lágrimas marejadas nos olhos de alguém me desnorteiam e me fazem rodar o mundo se preciso, em busca de alívio. Sei que sei conversar com os olhos. Que sei sentir o que vai à alma e quando um pedido está implícito numa fala ou num gesto de alguém querido. É por tudo isso que eu invejo esse passarinho, que não se importa a que distância qualquer coisa esteja do seu ninho, porque ele irá lá para buscá-la. Quem agora me lê, talvez esteja se perguntando no que será que essa maluca aí está delirando, se não é um passarinho, não tem asas, nem ninho, onde será que ela quer chegar? E eu lhe direi: a nostalgia se ancorou nos meus repentes, junto com ela a saudade e a vontade de abraçar a tanta gente, de saber-lhes da vida, de dizer-lhes um mimo, de chorar de rir de todas as minhas bobagens. E para terminar, enquanto a fumaça da água começou a desenhar o ar, eu voltei à janela para fotografar o pássaro liberto e ele não estava mais lá. Voou para algum lugar que lhe deu vontade e eu voei pra cá para não deixar passar esse meu vôo sem sair do lugar.