D e s c o n e c t a d o

Não posso nem disfarçar, sou mesmo u sujeito completamente desconectado com a modernidade. Só uso a internet com a ajuda do neto. Mas, mesmo a contragosto, sou e certa forma, ainda que pê da vida, subordinado ao mundo virtual e digital. Sim, sou teleguiado, marionete, monitorado pelos cordéis das senhas, códigos, números. Sou, sim, um número. Falo até com máquinas (disque isso, disque aquilo...). Em resumo: dependo das máquinas em muita coisa. Sou obrigado até a fazer recadastramento, atualização de dados, responder questionários, tudo virtual. Um tempo desse tive que provar que estava vivo, além de cadastrar a impressão digital para o título de eleitor.

Mas, dentro do possível e das limitações, inclusive físicas, reao contra, sou contracorrente, reacionário, conservador, anacrônico, prefiro as coisas como eram antigamente. Até o meu aparelho de tevê é antigo, o neto depois que desligaram o sinal analogico, arrumou u conversor, mas a iniciativa não foi minha, poderia até estranhar mas sobreviveria sem tevê. Uso um celular que não se vê mais nem os números, tem uns 15 anos. O meu relógio é automático e todo arranhado, tem mais de 30 anos. Não riam, please, ainda me correspondocom vários amigos por cartas, cartas longas, juro.

Ando de ônibus, nunca dirigi na vida, nem possui carros. Nunca fui ao estrangeiro, de Brasil só conheço Recife, Fortaleza e Savador. Fora do sertão me sinto no estrangeiro. Roupa? Não tenho nenhuma nova, todas têm mais de dez anos,algumas vinte, o chinelo perdi a conta, mas possuo um tênis antigo (tem vinte anos) que uso quando chove. Só uso bermudas velhas, calça com prida só tenho uma, está se esgarçando, só uso para ir a repatição, enterro e missa de sétimo dia.

Sou um desconectado com a modernidade. Ainda hoje ouvi vários elepês numa radiola antiga Telefunken. Sou um caso perdido. Estou no Recife e faz oito anos que anão vejo o mar. Mas anão há uma semana que não vá ao Mercado da Encruzilhada, motivo: me sinto no sertão, em casa. Sou um maytuto véio, caduco e do beição. Inté.