Polêmica no banco

Sempre que vou ao banco, geralmente fazer depósitos da minha neta ou pagar contas dela, fico na fila dos idosos; segundo a neta,

é mais rápido e eu tenho tempo de sobra e ele tem vários compromissos, inclusive trabalha num escritório de advocacia. Então como, hermanas e hermanos, poderia negar esse favor a minha neta que amo tanto?

Quando em vaga sento numa cadeira. já conheço uma porção de gente que pinta no pedaço. Na última vez que estive nese banco, uma agência do Itaú, comecei a conversar com um atendente que é muito educado e popular, a conversa versou, de repente, para a segurança. O rapaz afirmouque um dos grandes problemas do Brasil era a segurança, que ningupem podia andar tranquilo nas ruas... Foi no momento que um sujeito bem vestido e muito enfeitado, sem dúvida um desses novos-ricos prepotentes e chatos, resolveu discordar do rapaz radicalmente e até irritado, deu um esculhaco no atendente: - Rapaz, você devia pensar mais para falar. Isso que você falou é uma espécie de campanha contra o país. A violência existe em todo canto, ficar pichando apenas o nosso país é papel de traíra. Então todo importante, mostrando o relógio cara e uma pulseira balançando, além da maquininha na mão, olhou para mim e perguntoi todo importante: - Tio, estou certo, não estou? Não quis discutir, não amanhecera de ovo virado, mas mesmo estando ligth respondi: - Sei lá, não posso dar uma resposta exata, sou um matuto do sertao, nunca fui ao estrangeiro. Sobre o assunto apenas digo a você que quando dá seis horas da noite eu me tranco no apartamento com medo. Mas eu sou um matuto muito medroso, doferente de você que deve ser muito disposto. É isso não posso dar uma resposta mais completa. O carinha riquinho fez auma munganga mas não retaliou, eu já estava torcendo para ele me desmitir.

Mas aí, olha o aí, uma senhora idosa, que eu jpa conhecia, acho que está com mais de oitenta, mas muito lúcida, inteligente, informada e muito elegante, ela de vez em qando me pede para contar um causo do sertão, resolveu entrar na polêmica. olhou para mim e disse: - Você nãoa é matuto, é sertanejo, apenas nunca viaou, mas sei que conhece o mundo pelos livros, é bem informdo... Fique certo que no chamado mundo civilizado não existe a violência que existe aqui, a violência lá é exceção. Conheço o mundo civilizado quase todo, minhas filhas e filhos moram lá. Sempre vou aos Estados Unidos e à Europa. Também vou constantemente a Buenos Aires e Montevidéu, tenh parentes ns duas. Nesses lugares a gente pode andar á noite sem medo, sem ter que se trancar depois das seis horas num apartamento. Essa violência que existe aqui nao existe noutros países. E então vrou-se para o novo-rico e disse: - Falar a verdade não é ficar contra o país coisa nenhuma. Ficar contra o país é omitir suas mazelas como você está fazendo. Coisa fácil para você que nda de carro blindado e com seguranças (ela conhecia o sujeito). Pimenta nos olhos dos outros é refresco. Você calado é um poeta. Que direito tem você de esculachar um atendente de banco? O cara então afrouxou disse que estava só brincando. A senhora não aceitou a desculpa esfarrapada: - Brincando nada, eu conheço voc~e do prédio. Só é valente com os pequenos. Chegou no numero da senha dela, mas antes de ir po caixa ela me disse: - Depois que você for atendido vai me contar um causo do sertão. O novo-rico sau fumaçando para a mesa do gerente. O atendente disse a mim baixinho: - Vô, gente fina é outra coisa. Uma verdade abissal. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 07/09/2018
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