Balanço
BALANÇO
A tarde era de domingo. O sol espiava, entre as árvores, as pessoas em movimento. Havia transmissão de jogos pelo rádio, bandeiras dos clubes futebolísticos da cidade expostas ao longo da Avenida Bento Gonçalves.
A Feira da Avenida tornara-se um passeio dominical obrigatório, com comércio variado de doces, artesanatos em madeira, guardanapos de crochê, roupinhas para bebê de tricô.
Ao entardecer, estacionei no local para apreciar, ainda que ligeiramente, os objetos em exposição.
Uma multidão vai e vem observando as mercadorias, pequenos grupos formam círculos para conversar.
Após algum tempo, cansada, desisti de caminhar; chama-me a atenção um grupo de meninos, na esquina, a pedir moedas.
O menor deles aparentava, pelo aspecto físico, uns quatro anos. Na realidade, deveria passar dos seis. Vestia bermuda cinza, quase preta por não ser lavada há muito tempo, grande demais para seu tamanho, que puxava várias para não cair. A roupa larga, comprida até o tornozelo, destacava ainda mais as pernas finas e frágeis. Usava um casaco que o deixava disforme; pele de adulto em corpo de criança.
O menino, alheio a tudo, ensaiava uns passos em ritmo de samba. Fazia algumas voltas ao redor de um tronco e tornava a dançar.
Os companheiros, mais atentos, acabam recebendo os poucos trocados distribuídos pelos passantes distraídos e apressados. Não me contenho e faço algumas perguntas - que ele responde: “ mãe, tá em casa, cuidando dos irmãos menores. Pai? Não tenho. Tem os namorado da mãe. Vim com uns vizinhos pra vê se arranjo algum dinheiro prá ajudá.
Enquanto falava, abraçava um arbusto procurando apoio.
Dou-lhe cinco reais. Quando me virei para ir embora, os amigos já estavam com seu dinheiro na mão.
Segui em frente, revoltada e impotente.
No carro, liguei o rádio. Comemorava-se a vitória do time de futebol mais popular da cidade. Não me importei com o resultado. Sempre tem um time ganhando, outro perdendo e torcedores comemorando.
Fiz algumas voltas e passei novamente na esquina do menino. Agora a noite espreitava os incautos. Ele continuava lá, minúsculo. Dançando.
INALVA NUNES FROES