C o r é i a

Quando eu era ainda menino, no finzinho dos anos 50, ouvia as mulheres dando esporros nos maridos e gritando para a rua toda ouvir: -Você devia ter vergonha na cara, vive frequentando a Coréia! Sim, os caraseram censurados e esculachados por frequentarem a Coréia. Isso me causava surpresa órque a Coréia para mim era um lugar muito perigoso onde houvera uma guerra e morreu muita gente.

Só depois, no começo dos anos 60, quando adolescente dava umas circuladas prospectando a zona, pude entender porque apelidavam a zoana de Coréia. Antes era "baixo meretrício", "pinga pús", lugar das perdidas... Mas aí, olha o aí, uma decisão da direção geral do Partido Comunista recomendou pichar paredes em todo o país com a innscroção: - Nenhum jovem para a Coréia. Não sei se por medo de pichar no centro o fato e picharam numa parede da ruela da zona. Mas com o tempo ficou apenas a apalavra Coréia, daí o apelido. Só depois é que se usou o termo Cabaré, e mais tarde Itapoã, quando um comerciante rico e apaixonado pela zona construiu no local oum grande cabaré, uma espécie de clube muito mais bonito que os da cidade, e botou o nome de Itapoã. Quem é de Arcoverde e é adentrado nos anos deve se lembrar. Esse cabaré era do tipo do de Maria Machadão, o Bataclã, imortalizado por Jorge Amado. Era arretado o cabaré de Arcoverde. Era a Coréia chiquê. Sem nenhuma guerra, a não ser... Mas de vez em quando havia brigas e ate mortes. Nada é perfeito. Mas faz parte da nossa memória. Eu recordo com saudade o Itapoã. Não sou mentiroso. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 05/09/2018
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