Irene
Ahh!, Irene, uma mulher doce, na meiguice dos dias ...uma fortaleza diante das agruras de sua condição de negra, escrava e mulher. E assim foram seus dias, aqui na terra, junto dos seus, a quem amou com intensidade, fervor ...mesmo por de trás dos ferrolhos e correntes que amarravam os copos doloridos, mas não os corações libertos na imaginação.
Nunca foi dada aos luxos da vida, não por opção, pois a ela, isso nunca lhe foi permitido. Irene, era negra, escrava e mulher. Uma escrava de mesa, não tinha a beleza física aparente, mas de um coração sereno, e amoroso ...que lhe permitia sobreviver entre os senhores de forma sábia. Calar-se era uma de suas especialidades, observar de longe e em silêncio.
Servia com delicadeza, servidão, e recolhia-se ao descanso num leve caminhar. Irene, negra, escrava e mulher, carregava nos olhos e no coração, um desejo, ser mulher livre. Livre para amar sem as correntes ...amar sem os ferrolhos ...amar sem a dor das feridas impostas...amar ...Ahh!, Irene, a vida não lhe foi fácil, sempre lhe foi penosa. Na vida, Irene não pode ser livre...até seu último suspiro...Irene foi, negra, mulher e escrava. Neste pedaço de chão que foi condenada a servir, calar, resignar-se, mas nunca aceitar.
Irene ...ahh!, Irene, calou-se por completo, cerrou os olhos ...aquietou seu coração e partiu.
A escrava, a Negra, a Mulher, a Serva entrou no céu...pedindo licença ao branco que guarda os portões dourados, um costume e uma obrigação que carregou consigo aqui da terra. Irene não entendeu a conversa do guardião dos portões, e continuou pedindo licença.
A voz do guardião ressonou ...”Irene, aqui não és mais escrava. Irene, aqui não há servidão. Irene, aqui és livre de alma e coração. Irene, aqui és tua vida plena. Irene, lá foi apenas passagem. Entre e fique à vontade.
E Irene na sua doçura e força de mulher entrou ...Ahh! Irene, não se cale mais. Ahh! Irene, transborde seu coração e alma. Ahh! Irene viva toda a sua plenitude.
Ahh! Irene, uma mulher, mas o retrato de muitas.
Ahh! Irene.