O disfarce do fascismo
Vistoria para o licenciamento anual de veículo automotor e obtenção do CRLV. Chegamos cedo, uma hora antes do agendamento, para nos livrarmos logo da obrigação. Pegue a linha 2, diz a atendente inicial. Na linha 2 não demorou nada. Carro liberado. Claro, estávamos preparados para isso. Quanto menos complicações com o Poder Público, melhor.
Conforme orientação, fomos para a sala onde deveríamos obter o CRLV. Pouco mais de 30 minutos nessa sala valeu para que fôssemos informados de que o “sistema estava fora do ar”. E não havia prazo para a regularização. Esperamos por 2 horas e nada. De posse do protocolo, decidimos deixar para o dia seguinte, depois da informação de que seríamos atendidos, apesar de ser sábado o dia seguinte.
No sábado, cedo pela manhã, fomos buscar o documento. Blitz na Ayrton Senna. Estou indo buscar agora o CRLV porque o sistema ontem esteve o dia todo fora do ar. Deu até no Jornal Nacional. Tudo bem, senhor. Por uma questão de bom senso, não vou complicar. Mas evite transitar sem o CRLV, pois outro agente pode não agir como eu e apreender o seu carro.
Por que essa ameaça, traduzida pela cínica alegação de bom senso, se não estávamos com o CRLV só pelo sistema encontrar-se fora do ar no dia anterior? O que podia ser comprovado pelo protocolo em nosso poder.
O que faz o agente intimidar o cidadão, mesmo sabendo que não é culpa sua se ele não se encontra em situação plenamente regular? Na verdade, o agente deve receber instruções superiores no sentido de ser o mais exigente possível, considerando-se a preocupação primeira das autoridades com o aumento da arrecadação financeira do Estado. Arrasado economicamente por uma das administrações mais sórdidas e corruptas de todos os tempos, a do ex-governador Sérgio Cabral.
Por outro lado, por que uma blitz montada logo no dia seguinte à situação de “sistema fora do ar” que impediu, em toda a cidade, os condutores de veículos de realizar as suas vistorias anuais ou, realizando-as, de obter o famigerado CRLV? Os agentes de trânsito esperavam com certeza a apreensão de um número significativo de veículos. Atitude deliberadamente perversa, portanto, e digna de um Estado com características muito próximas do fascismo. Se levarmos em conta o número de assaltos, tiroteios, arrastões e crimes de toda ordem acontecendo diuturnamente pela cidade e pelo Estado.
Rio, 25/08/2018