A banda não quer evoluir
Compositores como Chico Buarque, Gilberto Gil e mesmo Caetano Veloso são referências inquestionáveis em nossa MPB. Capazes de nos brindar com a música de qualidade que ainda continuam produzindo.
Do ponto de vista sócio-político, contudo, a validade do que veiculam vai contar com a ausência de restrições ao que dizem por parte dos que lhes enaltecem não apenas as qualidades artísticas, mas também o discurso político. Pessoas que, acima de tudo, devem ser respeitadas em suas convicções e em seus aplausos a esse trio de compositores.
Acontece que tais artistas, segundo nos parece, não mostraram a mesma “evolução” político-social que se observa na liderança política que defendem, agora talvez até com mais intransigência. Parece que pararam lá pelo início do périplo ditatorial. Porque o político Lula hoje se acha bem distanciado do combate ao reacionarismo exacerbado da direita, explícito no tempo da ditadura e tradicionalmente contrário aos anseios populares. Lula aproximou-se bastante dos setores oligárquicos a que pretendeu se opor lá pelos idos de 60 ou 70, aliou-se depois ao neoliberalismo, a que ofereceu críticas recentes, agora com o poder nas mãos dos civis, e facilitou a vida dos bancos e seus donos, diametralmente oposta aos interesses dos mais desfavorecidos.
Não há dúvida de que Luís Inácio integra hoje a elite, nada tendo a ver com o retirante que chegou com competência e entusiasmo à presidência do Sindicato dos Metalúrgicos.
Isso tudo sem que possamos ignorar – e dificilmente alguém poderá obstar – o diálogo íntimo, frenético e recorrente entre a elite e a corrupção, sempre pronto a se manifestar com a maior sistematização possível – às vezes até com a maior visibilidade possível –, como o país tem tido a chance infeliz de vivenciar.
Rio, 21/08/2018