Puxão de orelha

Sou alguém que, graças a Deus, possui alguns amigos. Amigos de verdade. Amigos de toda uma vida. Esses que são imprecindíveis porque, nove-foras alguns arranca rabos, são amigos de verdade que sabem superar as diferenças e manter a amizade. São amigos que dizem o que pensam, que não hesitam, quando julgam necessário. me dar um corretivo, um esculacho ou um puxão de orelha.

É o caso de um casal que mora no Recife num bairrro muito afastado, por vontade própria, porque se quissessem poderiam morar num big apartamento na beira da praia. Ele é aposentado como coletor federal e tem ua ótima renda além de vários bens no interior, e ela é professora aposentada tanto da rede pública como da privada, foi professora de vários cursos, tem todos os títulos possíves, ainda ensina dando aulas particulares porque, sempre diz, é viciada em ensinar. Sua paixão é a literatura, mas a matéria que sempre ensinou foi geografia. Nem ela sabe o motivo. Quando falo do vício de ainda ensinar, chamando-a véia viciada, ela ri e diz que é toc. É mesmo.

O sujeito nunca foi ligado nem à geografia e nem à literatura, prefere a musica,arranha o violão, mas não é cobra criada. O seu hobby preferido, além do gamão, é o jogo de botões. Possui uma mesa especial e vários times, promove até campeonatos, onde várias gerações disputam, às vezees assisto, não jogo porque tenho as mãos trêmulas, mas joguei e gosto de jogos de botões. O meu time de botões era o Botafogo. Com esse sujeito sempre jogo gamão, mas saio pedendo, mesmo me coniderando bom jogador, o sujeito tem muita sorte.

Dia desses ela me telefonou logo de manhazinha, estava acordando, e disse que precisava falar comigo urgente. Tentei saber da pauta, ela riu e disse que era algo tão sério que não podia ser tratado por telefone. Bom, tomei café, fiz as compras do supermercado, o jogo na loteria e depois pedi ao neto para chamar o uber, e fui saber o que a amiga queria comigo de tão urgente.

Quando cheguei olhei para a casa com jardim na frente e uma mangueira e fiquei logo com inveja, toda vez que vejo a morada desses amigos fico com inveja. Entrei, o sujeito estava jogando botão sozinho, vi o seu time que tem mais de 60 anos, o Flamengo. A amiga disse que eu fosse espairecendo que logome atenderia. Bom comecei a jogar gamão com o sujeito, ganhei duas e erdi três. Foi quando ela chegou afogueada da cozinha e foi logo dizendoem alto e bom som:

- Tenho acompanhado seus escritos no Recanto das Letras, não faço comentários porque nao gosto de tornar púbico esporro em amigo. Mas você está extrapolando. Que é que você tem, homem de Deus, com as idéias dos outros? Nada, mas fica insistindo, fustigando, buindo futucando e mexendo com quem não pensa igual a você. Como você pode se queixar de patrulhas ideológica se procede da mesma forma? Se alguém é injusto com a esquerda e mete o cacete na esquerda, é um direito dessa pessoa. Mas você se ofende, fica remoendo, eu te conheço de antigos carnavais, você fica comprando briga. Que coisa feia! Um véio arengeiro e mais que arengueiro, metido a moleque, da mesma forma de antigamente. Bicho, deixa a vida dos outros e cuida da tua. Democracia tem que ser praticada. Outra coisa, pára com essa mania de dar a entender que o sertão era uma Shangri-la. Uma coisa é ter saudade do passado, outra coisa é enfeitar o maracá do passado, daquele tempo de preconceito, tabus e perseguições, de que você mesmo e sua famaáilia eram vítimas. Os anos dourados foram lindos, mas tamabém terríveis no que se refere aos preconceitos. Mais uma coisinha, não gostei de você ter contado uma particularidade minha num dos escritos. Se era para contar contasse tudo, da forma que foi, mas você apenas insinuou, por que não contou tudo direitinho, a transa toda? Bestalhão, metido a livre e prisioneiro de encobrir as coisas.

Bom depois do puxão de orelha e do sermão caimos na risada, ela então botpou o almoço: tilápia na telha, pirão, arroz branquinho, vinho chileno e, claro, em homenagem a mim cachaça mineira. Comi feito um justo. Despois ainda degustei uma tora de pudim, finalizando com um cálice de Cointreau e um cafezinho. Tirei um ronco numa rede no alpendre da casa e depois o amigo me trouxe de carro.

Tô doido pra levar outro puxão de orelha. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 24/08/2018
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