Seiko automático e arranhado

Quando completei 15 anos meu pai e deu um relógio Lanco de presente. Era de corda. Imaginem a inha alegria. Andava pelas ruas balançando o braço para as pessoas notarem o danadinho. Tiha um cuidado arretado com ele, como sou desajeitado quem dava corda no relógio era minha mãe. Mas um dia, quando fui ao Recife tirar uns docuentos para assumir eu eprego no BNB, dormi uma pensão na Rodoviária e, pasmem,perdi o Lanco. É que para dormir tirava o reloógio do braço e botava num mesinha de cabeceira, nesse quarto da pensãocom paredes de tabique numa tinha mesinha, só um preguinho na parede de tabique, botei nele penduradinho o relógio. Quando amanheceu o dia apressado, meu irão me chamando, saí e esqueci o relógio. Bom, depois de tirar os retratos 3 x 4 e tirar a carteira profissional, dei por falta do relógio, corri de volta à pensão, mas chegando lá, canto mais lindo, o relógio desaparecera. Fiquei u trapo, um molambo, uito triste. Nunca esqueci o meu Lanco.

Depois possui diversos relógios, Fortíssimo, Mondaine, Ernava, Ernavim... Mas nunca me fizeram esquecer o Lanco, até que em 1970 comprei a um venedor ambulante que sempre aparecia no banco um Seiko automático, made in japan. Não sei por que me apeguei a ele, deve ser porque me acompanhoua varios lugares e nunca foi ao conserto. Apenas me livrei da pulseira de aço porque beiscava meu braço, botei uma simples de plástico, vivo trocando. O Seiko tá todo arranhado, mas funcionando bem. Tá certo às vezes adianta um minuto aqui e acolá, acerto e priu.

Não nego que sou sempre alvo de mangação dos amigos que me chamam de anacrônico por ainda usar m relógio automático dos anos 70. Mas quado fazem isso eu sempre reajo. Primeiro tiro o Seiko do braço e sacudo no chão, é isso mesmo, jogo no chão, apanho e mostro, o bicho funcionando, então digo que é a prova de baque. Depois, nos botecos ou cafés, onde estivermos reunidos, peço um copo com água, e boto o eiko dentro, depois de uns quinze minutos tiro, enxugo e mostro o bicho funcionando, e digo que é a prova d'água e, então, faço um desafio: - Duvido vocês fazerem co seus relógios modenos este teste que eu fiz. Ninguem faz. Por fim, peço para eles ligarem a maquinha na Hora Certa de Brasília, liga e aí eu confiro, exatamentea que está no Seiko.

Na última vez, depois que fiz o teste e zonei com eles, ua amiga disse que o meu relogio é igual ao de um personagem de uma novela (essa nao assisto) que alguns personagens despertam depois de cem anos congelados. Ela disse: - Essa merda de relógioque você usa deve ser igua ao de Dom Sabino. Mas não testam os relógios deles. Vou continuar com o meu Seiko, espero nunca dormir num hotel de Rodoviária e não esquecê-lo num preguinho na parede. Inté.