Gabriela Cravo e Canela

Um dos hábitos saudáveis dos anos dourados era sem dúvida a leitura. Lia-se muito mais do que hoje. É claro que as mulheres, gostavam de ler livros mais suaves e amenos, no caso das moças e donas de casa, a leitura preferida eram os livros da famosa Coleção Azul, onde reinava absoluta M. Delly. Remember? Confesso: adolescente eu de vez em quando lia um deles, minha mãe tinha quase todos. Eu lia e gostava, sempre fui chegado ao romantismo. Ainda sou, graças a Deus. Prefiro uma leitura romântica aos livros dos grandes pensadores. Juro.

Porém havia uma concorrência forte a M. Delly e aos romances da Coelção Azul. Eram os romances de Jorge Amado, Graciliano Ramos, José Lins do Rêgo e Érico Veríssimo. O baiano era oais popular deles. Ainda é, podem crer. Os seus romances continham as histórias dos malandros, das "mulheres-damas", dos capitães de areia, dos fazendeiros do cacau e dos estivadores do porto da sua querida Salvador. Tavez ele nao escrevesse com a perfeição estilistica e o português escorreito do Velo Graça (Graciliano Ramos), mas prendia mais a atenção, divertia mais, empolgava mais. Ainda continua agradando mais que todos os demais escritores porque seus livros continuam muito lidos, mesmo depois do advento da internet.

Até 1958, ele priorizou os temas sociais, sempre destacando a luta do povo contra o arbítrio e por melhores condições de vida. Em 58, porém, ele reduziu esa preocupação e escreveu um romance que meso sendo um hinoà liberdade, não foi bem recebido e entendido pela esquerda engajada. Esse livro foio seu romance de maior sucesso, talvez o livro mais popular da literatura brasileira em todos os temspos.

Refiro-e à "Gabriela, Cravo e Canela". Esse livro revolucionou a literatura, rasgou e rompeu com as etiquetas literárias e chutou para longe o pau da barraca dos tabus e preconceitos. Gabriela era o dengo, o xodó, a sensuaidade e a alegria da Bahia. Ela conquistou o país e o mundo. É lógico que os reacionários da Igreja, ajudaos pelos santinhosdo pau ôco, puseram o livro no indexdas obras proibidas aos católicos. Só que essa medida inquisitorial foi desmoralizada. Gabriela foi mais forte, mais verdadeira, mais pura que as mentes torpes e podres dos reacionários. A reação fascista deles só auentou o interesse popuar pelo romance.

Os leitores ficaram encantados com a história de Gabriela, mas também com os deais personagens como Nacib, Glorinha, o apitão, o advogado bêbado, Tonico Bastos. a netado coronel, Mundinho Falcão, bem como locais arcantes da história coo oBar Vesúvio, o porto de Ilhéus e, claro, o cabaré de Maria Machadão.

A tevê adaptou o romance transformando-o numa novela de grande sucesso, novea em que Donia Braga arrebentoua boca dobalãovivendo Gabriela. Ea música Caymmi cantada por Gal? Um arraso. No entanto, muito melhor que a novela é o livro, talvez porque nos façarecordar um tempo que éramos mais moços, mais sonhadores e muito mais felizes.

Sou arriado os quatro pneus por Gabriela, embora sea vidrado també em Capitu, a cigana dos olhos oblíquos e dissimulados, olhos de ressaca, criação de Machado de Assis. Capitu era sonsa, mas cativante, enquanto Gabriela era a vida, a liberdade, o tabefe nos preconceitos e tabus. AAinda é. Sempre releio o romance, aabé releio Dom Casmurro. Machado e Jorge, embora co estilos diferentes, são onstris sagrados da nossa literatura.

Viva Gabriela Cravo e Canela. Inte.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 19/08/2018
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