Liu do Pistom e Estrellita

Sempre recordo os meus amigos que já partiram para outro plano de vida. Gente do povo, sempre fui - e sou - ligado ao povo. Fiz muitos amigos, independente de lado político. Na verdade, sempre coloquei a amizade acima da política, ideologia, religião e toda espécie de causas, crenças e ideais. Tem mais: nunca tentei a fazer a cabeça de ninguém. Detalhe: nunca pedi a ninguém para votar e A ou B, fiz parte de palanques, mas pedir voto a alguém, de jeito nenhum, acho fazer isso um desrespeito ao cidadão.

Acho que fui amigo de todas as figuras populares de Pesqueira, principalmente dos artistas e músicos. Um deles foi alfaiate, goleiro e trompetista. Um dos maiores trompetistas do estado, fez parteda famosa orquestra OARA, de Arcoverde (que tinha vários músicos de Pesqueira).

Liu era o cão chupando manga no trompete que a gente chama no sertão de pistom. Daí o seu apelido, Liu do Pistom. Co certezatinha o sopro tão arretado como o do trompetista americano Harry James. Convivi muito com Liu, batemos muitos papos. Ele era ouvnte assíduo das crônicas que escrevia diairiamente para a Rádio Jornal de Pesqueira e eram lidas pelo grande locutor Arnóbio Marques. escrevi durante mais de 20 anos, ininterruptamente.

Liu ouvia as crônicas e debatia comigo sobre elas, criticava, apontava falhas, discordava e até me dava dicas. Mas um dia ele ficou puto da vida comigo. O pior é que eu ignorava o motivo. Vamsos a ele.

Um belo dia, ainda cedo, antes das oito horas da manhã, eu fui passando pela frente das Casas José Araújo, os funcionários já estavam abrindo as portas, quando pára o ônibus da OARA, os músicos vinham de ua tocata, salvo engano em Maceió. Liiu desceu naquele local, ainda vinha vestido na "farda"da orquestra e com o estjo com o trompete na mão. Quando me viu gritou (eu estava na calçada do outro lado): - Ei, sujeito, venha cá, tenho uma conta prá acertar com você! Pensei que era brincadeira, e fui até ele. O cara estava com raiva e foi logo ao ponto: - Tô puto com você, ouvi sua crônica na rádio dizendo que ouviu Wilson da Celpe tocar no saxofone uma das suas músicas favoritas, o bolero mexicano "Estrellita" e foi a melhor execução que você ouviu dessa música. Mas anão é verdade porque que melhor toca essa mpusica que é própria de trompete, sou eu Liu do Pistom, e vou provar. Então abriu o estojo tirou o pistom e ali, na frente das Casas José Araújo, antes das oito horas da manhã, as pessoas rindo de mim, já tinha chegado várias pessoas, ele solou "Estrellita". Quando acabou colocou o pistom no estojo deu uma rabisaca e foi embora. As pessoas aplaudiram e ficaram rindo de mim.Realamente ele solava divinamente essa música que amo, parece que é do mexicano Manuel Ponce.

No outro dia ele me encontroue rindo perguntou: - Então, quem toca melhor "Estrelllita", eu ou Wilson da Celpe? Respondi também rindo: - É você. Toda vez que ouço essa música me lembro de Liu. Que saudade daquele tempo. Quue saudade dos amigos que partiram. Inté.

P.S. Eu sei que este tipo de escrito é meio demodê, mas eu sou demodê, sinto necessidade de lembrar o passado.