Técnico e grampeador

Depois da copa vamos voltando ao normal, sossegando a periquita e tratando dos assuntos corriqueiros, né mesmo? No caso deste véio caduco e iletrado mas teimoso que só uma mula, vou insistir nos meus causos do tempo que era mais novo e, creio, mais feliz.

Sempre achei - ainda acho - que a teoria,às vezes, não funciona na prática. Não, não desprezo madame Teoria, sem que ela é necessária ao conhecimento humano, tem que haver planejadores, aqueles que traçam programas e projetos e pensam o futuro.

Mas o técnico quando tenta por a mão na massa, não raro, é um desastre. Vejam bem, no tempo dogoverno Geisel houve uma reformulação no stor do crédito rural, tudo tinha que ser submetido ao crivo dos técnicos, obdev=cer a técnica. Então no banco (Nordeste) criou-se um quadro de TDE (Técnico em Desenvolvimento Econômico), todos eles formados e economia, adinistração, ciências contábeis e o escambau, todos cobrões,alguns com mestrado e doutorado. Todos bambambãs.

Além das novas mudanças o créditorural ficou obedecendo a itens que eram estranhos à região: confinamento, gado puro, rotatividade de pastagens, reservas técnicas, necessidade de calcular a evolução do rebanho bovino e um monte de exigências, incusive cróquis detalhado de certos itens financiados.

Para ensinar como adaptar o crédito às novas técnicas, mandaram um TDE a cada agência implementar e transmitir essas mudanças, inclsuive o metodo de tomar as propostas dos clientes, elaborando em conunto com ele o "programa de inversões" (o novo nome do orçaento). O cliente escolhido para a "aula" do TDE foi um cara de Poção, muito conhecido nosso, Adeildo Jatobá. Foi uma escolha a esmo, havia seis clientes, o TDE escolheu esse. O cliente queria algo simples, comprar ua meia dúzia de vacas, plantar dez quadros de capim sempre verde, fazer um curral e um barreiro, alé de reformar 1.500 meyros de cercas. O TDE nem tomou conhecimento do que ele queria, e aí começou a primeira e grande dificuldade: falar a língua do cliente. Primeiro nenhum cliente sabia o que era hecatare, a medida que eles conheciam era quadro, um quadro tem 1,2 ha, bastava converter, mas o TDE insistia em usar hectare, impondo, depois exigindo em colocar no plano de inversões um reprodutor puro carissimo, vacas puras, esquecendo que na região só se cria gado mestiço. Tambem queria, não riam, saber quantos quilos de capim produzia um hectare, quilos de tomate, quilos de feiao, de milho, de mandioca. Quis ensinar rotatividade de pastagens ao cliente, este sem entender nadinha, não entendia mesmo nada que o sujeito falava, ficou aperriado e aí disse: - Dotô, me adiiscurpe fazê um pedido, deixe Uila (meu nome é William, detesto esse nome, mas todos os clientes me chamavam de uila) inché os meu papé pruquê ele já intende tudinho qui eu quero, é pouquinha coisa e o sinhô fala istrangero e eu num entendo. O TDE não se ofendeu, ficou meio espantado e surpreso, acho até que meo envergonhado porque foi ensinar e recebeu uma lição: quando vamos falar co o homem do campo temos que usar a linguagem dele, atépara implementar mudanças. Resultado, osujeito fez uma reuniao comigo falando nas mudançase foi embora. Ganhou diárias gordas e tudo continuou como antes. Não mudou nada.

Tem pos depois chegou na agência uma auditoria, o auditor chefe eu á conhecia, era de uma cidade do sertão e tinha ua finidade comigo: gstava de jogar sinuca, a bem da verdade, fora campeão de sinuca antes de entar no banco, me dava quarenta pontos, e eu chegueia ogar ais ou menos. Bem, esse cara me chamou à parte e disse: - Você deve ter tirado o couro do TDE, eu soube da presepada dele aqui. Olha, na maioria das agências estão dizendo que trocam u TDE por uu grampeador. É mais útil.

Mas a verdade é que falta ao técnico e a técnica o conhecimento das regiões, estudar a prática, tentar entender o povo e a terra. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 16/07/2018
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