A Desventura da Noite.
-Sabe, a Florence foi pra Europa. Em algum lugar na Europa.
Disse a Denise. Ela, de fato, estava linda. Estava usando uma camisola preta, cobrindo a sua nudez, ainda estava usando a maquiagem de ontem, dando brilho e beleza no seu rosto. Denise, com as tuas coxas grossas, cheias de celulite e os teus cabelos lisos longos até a bunda, sentada no sofá da sala, cruzando as pernas, sentindo os sinais. Ela fala da Florence.
-Que lugar na Europa? Quero comer aquele rabo.
Disse eu. Denise ri e ainda deixa as pernas cruzadas.
-Sabe, você é um cavalheiro.
-Obrigado, mas por que ela foi pra Europa mesmo?
-Bom...cof!cof!(Ela acende o cigarro e começa a fumar)Qualquer um quer ir na Europa. São Paulo é para os loucos.
-Eu gosto dessa cidade.
-Você gosta ,mas ela não.
-E você?
-Bom ,é uma cidade cheia de pessoas tristes e insatisfeitas. Isso, de alguma forma, me sustenta.
-Verdade. Mas se você acha que um país feliz não teria pessoas como você?
-Não sei se existe um país feliz. Existe um país onde a economia é melhor e tudo mais, só que um país feliz não existe. Japão, por exemplo, é um país super desenvolvido, porém, tem um alto índice de suicídio.
-Então qual é a diferença entre lá e aqui?
-Aqui é um país mais miserável. Natural. Mais miséria, igual a mais infelicidade.
-Você não estaria no índice de pessoas infelizes?
Denise dá outra risada e olhou pra mim, como se eu fosse um bobo. A sala estava um pouco escura, era noitada, porém sentíamos o gosto da ressaca, apesar de não admitimos.
-Não sei se existe algo desse tipo. Um índice de pessoas infelizes.
-Pensei que você sabia de tudo.
-Eu não sei.
-Mas você é ou não é infeliz?
-O que isso importa, cara?
-Não sei. É curiosidade.
Denise deu um sorrisinho, depois foi até a mim e sentou do meu colo. Ela deu um beijinho, mas não na boca.
-Não gosto.
-Não gosta de que?
-Dessas músicas que toca no fim de ano, sabe?
-Sim….
-Prefiro as músicas do Vila Sésamo.
-Eu fui umas das poucas crianças que não assistiu o Vila Sésamo.
-Você não tinha uma infância.
-Exato…
-O que você fazia quando era criança, então?
-Bom….eu fazia muitas coisas. Eu vendia drops na calçada.
-Hehehe...para com isso !Você sem dúvida tem dó de si mesmo, sabe…
-Bom...eu fazia muitas coisas.
-Que coisas? Que coisas, senhor misterioso?
-Eu vendia drogas. Drogas pesadas…
Denise olhou pra mim, dá uma cara séria, misturada com um pouco de frustração e depois deu um pequeno e leve tapa da minha cara.
-Hey!
-Seu bobão! Não leva nada a sério…
Ela saiu do meu colo e foi até uma mesa que ficava a minha frente. Na mesa, tinha um copo de vinho vagabundo, ela bebeu o resto.
Depois, ela foi até canto da sala, onde tinha uma janela. Ela ficou fumando o seu cigarro vagabundo, enquanto olhava as pessoas passando na velha rua Esmeralda. Eu andei até ela, como um cachorro miserável. Deus...quem podia me julgar? Os dias sempre eram assim: acordar, ir ao trabalho ,sair do trabalho, e no final da noite? Tocar uma punheta. A cama sempre ficava vazia e a Denise ficava ocupada durante a semana. Neste sábado, ela estava livre. Bebemos bastante, chamamos um certo pessoal. Amigos dela, amigos meu ,mas do fundo sempre restava aquilo...nós dois, observando as pessoas passando na rua Esmeralda.
Eu toquei nas coxas de Denise. Toquei e toquei, eram deliciosamente gordas e macias. Depois a mão subiu e subiu. E cheguei até a bunda. Eu poderia ter tocado no cu dela e isso não seria nenhum crime.
No fundo, Denise nunca ia se importar com mais uma desventura, por mais que a noite seja um lugar triste e solitário para mim.
Só que Denise ainda fumava o seu cigarro, ainda transmitia aquele sorriso. Era pago, tinha um preço, eu não podia ser julgado pelo dia seguinte, mas sempre tem algo...sempre tem algo que se esconde de uma alma feminina.
Denise fingiu gozar, enfiei o meu dedo na xoxota dela. Depois ela sorriu novamente, se deitou no chão e mostrou o seio esquerdo. A camisola preta virou uma doce coadjuvante, o tapete era o ensaio ,onde podia cometer mais uma sacanagem, e isso não parecia estar errado…
Pois nunca se sabe, neste exato momento, um pobre japonês deve estar se jogando num prédio de trinta andares. Ele deve ter morrido virgem ou deve ter ficado enjoado de tudo mesmo.