Sonhos
Há dias em que acordo com imagens e sensações ainda bem nítidas de algum sonho da noite anterior. Quando o que estou sonhando é algo agradável, sinto sempre uma pontada de descontentamento pelo despertar que interrompe este prazer inconsciente.
Dizem os entendidos que os nossos sonhos não são nada além do que nossos desejos, medos e necessidades latentes encontrando um modo de se expressar. Eles sempre me fascinaram. Como pode existir tanta coisa maluca e aparentemente sem sentido desejando ser expressa?
Por outro lado, é bom saber que o Criador supriu um modo pra nossa alma falar o que as palavras não conseguem, e, sem interferência consciente dos nossos sentidos. Sim, porque não fossem os sonhos totalmente involuntários e inconscientes, já não seriam mais uma pura e livre expressão da alma. Certamente seriam massacrados e limitados por regras, censuras e julgamentos. Nossa vida, quando não estamos dormindo, é limitada por padrões, censuras, regras verbais, não verbais, e expectativas. E tudo isso é preciso, claro, para uma convivência social de harmonia e respeito, mas não deixam de ser limitações.
Fica fácil deduzir então que o único momento de total liberdade de expressão que experimentamos é quando dormimos. Chega a ser irônico: preciso estar totalmente incapaz de interferir, totalmente à mercê do meu inconsciente para que a caixa de pandora da minha alma se abra e revele o seu conteúdo, na maioria das vezes, bizarro.
Vira e mexe eu sonho com água. Por vezes são ondas gigantes do mar que se levantam para me engolir, ou então um vasto oceano abaixo de mim enquanto eu o sobrevôo, extasiada com tudo ao meu redor, sentindo um misto de liberdade e medo. Também sonho com frequência que estou ao volante de algum tipo de meio de transporte motorizado, fazendo manobras radicais, e invariavelmente, terminando por bater em algum obstáculo.
Outro tema frequente nos meus sonhos é alturas: dentro de um avião, voando agarrada com todas as minhas forças à asa de uma aeronave, sentindo de novo aquele misto de liberdade e medo, ou, me vendo no topo de algum lugar muito alto, olhando seres e objetos minúsculos lá embaixo com verdadeiro pavor.
Outra coisa que percebo, fascinada, é que nos meus sonhos, vez por outra, estou batendo boca, falando tudo o que eu realmente sinto e penso num diálogo com alguma pessoa com quem minha relação aqui no mundo dos acordados é frágil e complicada. Sabe aquele tipo de relação que nos faz sentir que temos que “pisar em ovos”? Pelo menos, em algum momento, mesmo que em sonho, me consola sentir que consegui expressar o que realmente penso sobre esta pessoa.
Analisando estes temas recorrentes, não consigo chegar a uma conclusão satisfatória. Será que o fato de eu me considerar uma motorista normal, mas realmente não ser maluca por direção, explique a frequência dos meus sonhos com manobras ao volante? Estaria eu enfrentando ali algum medo latente? A presença constante de água talvez seja o mais claro dos enigmas. Eu gosto de ver a água, aprecio a beleza do mar e de belos lagos, mas não gosto muito de estar dentro da água e quando pequena, quase morri afogada uma vez.
Certa vez, no meio de uma sessão de psicoterapia, ao relatar meus sonhos à minha psicóloga, ela me disse que eles eram extremamente expressivos, muito gráficos e reveladores. Praticamente o “sonho de consumo” de qualquer terapeuta. Adorei o comentário, mesmo sabendo que eu não tinha mérito algum nisso.
Os estudiosos do tema dizem que todos sonhamos todas as noites, o que muda é que, algumas vezes, a lembrança do sonho se apaga logo e, outras vezes, dura mais tempo. Por isso, sempre que consigo me lembrar de algum sonho por muito tempo, tento prestar muita atenção no seu conteúdo e entender se tem ali alguma mensagem importante, mas claro, sem grandes encanações.
Conheço pessoas que realmente tem sonhos premonitórios, ou proféticos, por assim dizer. Os sonhos delas se mantém vívidos e o que elas sonham acaba mesmo acontecendo na vida real. Eu acredito nisso. Penso que é uma das maneiras que o Criador se comunica conosco. Normalmente esses sonhos vem impregnados de simbolismos e alegorias, precisando ser decodificados para terem uma aplicação mais prática. E nesse caso, o sonho, além de um mecanismo de alivio e expressão, é também um canal a serviço do bem.