Meu primeiro trabalho

“Um homem se humilha

Se castram seu sonho

Seu sonho é sua vida

E a vida é o trabalho

E sem o seu trabalho

Um homem não tem honra

E sem a sua honra

Se morre, se mata

Não dá pra ser feliz”

Fagner

Como é gratificante o primeiro salário! Lembro muito bem do meu primeiro emprego. Foi arranjado por meu pai. Ele sabia que eu gostava de matemática e estavam precisando de uma pessoa para dar aulas de matemática para uma turma de homens da marinha. Não sei bem qual era a finalidade do curso, mas eles precisavam ter noções básicas de trigonometria, e outros assuntos para a marinha mercante, acho que era isso.

Saía do Colégio Estadual de Recife e, ainda de farda (saia de pregas azul e blusa branca ensacada), ia dar aulas a esses senhores. A maioria já casado e com dificuldade de aprender. Era grande a minha vontade de ensinar e deles a de aprender, embora não fosse muito fácil para eles, pois estavam muito tempo sem estudar, nem para mim, sem nenhuma experiência de professora. Não era professora rigorosa, procurava de qualquer maneira superar as dificuldades que eles tinham. Aproveitava qualquer acerto para eles não serem reprovados. Alguns ficavam até envergonhados, achando que só tiravam notas boas, não por mérito, mas pela minha benevolência. Mas acho que eles mereciam, só pelo fato de estarem, no fim da tarde, já cansados de um dia de trabalho, podendo estar com suas famílias, fazendo esse sacrifício para subirem um pouco mais na vida. As aulas eram ministradas num andar de uma casa na região portuária. Acho que sindicato de alguma coisa. Lembro de um lance (literalmente falando) que aconteceu: as janela da sala estavam abertas, para ventilar, pois não tinha ventilador nem ar condicionado, e um vento mais forte terminou levantando minha saia rodada. Mas eles, os alunos, foram muito respeitosos e imediatamente fecharam as janelas para que eu não passasse por novo constrangimento.

Acho que foi a primeira vez que venci minha timidez. Adorava dar essas aulas, elaborar as provas, procurando adaptá-las à realidade e à vivência deles. Não me lembro por quanto tempo dei essas aulas, mas foi por um tempo curto.

O primeiro salário a gente nunca esquece. Era pouco, mas para mim era tudo. Gastei todo com presentes para meus pais e irmãos, pois adoro dar presentes.

Lenalice
Enviado por Lenalice em 23/06/2018
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