Voltei Olinda

La bohème

“Quand au hasard des jours

Je m'en vais faire un tour

A mon ancienne adresse

Je ne reconnais plus

Ni les murs, ni les rues

Qui ont vu ma jeunesse

En haut d'un escalier

Je cherche l'atelier

Dont plus rien ne subsiste

Dans son nouveau décor

Montmartre semble triste

Et les lilas sont morts”

Charles Aznavour

Voltei Olinda!

Mas não te reconheci.

Hoje resolvi passear pelas ruas por onde andei nos tempos de criança. Talvez procurasse resgatar boas lembranças daquela época.

Não fosse a praça que, embora não parecesse a mesma, estava lá; não fosse o mercado da esquina que, embora tenha mudado de nome, estava lá, difícil acreditar que foi ali que vivi, brinquei, fiz planos para o futuro.

Me espantei com a quantidade de farmácias e bancos financeiros que proliferaram. Parece um indicativo de que as pessoas estão adoecendo mais e dando muito valor ao dinheiro.

Rua São Miguel!

Finalmente cheguei lá, mas não encontrei o que procurava.

Cadê a árvore que protegia os meninos que moravam na casa da frente, do chicote do pai, quando faziam travessuras? Cadê o muro baixinho onde a gente sentava, no fim do dia, para contar histórias de fantasmas e brincar na calçada, até nossas mães avisarem que era hora de entrar para dormir? No lugar da frondosa árvore plantaram uma oficina suja e escura; no lugar do muro baixinho construiram enormes muralhas que escondem completamente a casa onde eu brincava. Como Machado de Assis me vi perguntando: mudou Olinda, ou mudei eu?