"Com Certeza Vai..."
Sabe aquele dia, o derradeiro dia, no qual você deixa para resolver algo importante que protelou por tantos dias; e aí você registra o ponto as dezoito horas de uma segunda-feira, véspera do dia dos namorados, sai focado em direção à loja onde pretende resolver de vez o que negligenciou até os quarenta e oito do segundo tempo, três de acréscimo, luta para encontrar vaga para o carro, depois de ter ficado enredado no trânsito e a loja começa a ser fechada. Pois é!...
Mas uma atendente linda, alta, morena, sensual, tantos atributos, vê teu sufoco e não fecha a porta, olha para você e diz "boa noite". Em segundos viajo e penso "que boa noite seria". "O que o senhor deseja"; penso "tudo". "Em que posso ajudá-lo"; devaneio "tudo, também". "Sê o número não estiver bom pode trocar"; "é meu número e ponto". Simpática "volte sempre"; "voltarei".
O telefone toca, "oi amor, já comprou meu presente"; "que presente". "Aí bobo, do dia dos namorados"; "sim... sim, claro... claro". Os pés começam a voltar para o chão, a mente pega no tranco. "Comprei o teu"; "que bom, fico feliz que lembrou". "Aí amor, como sei que não és ciumento posso falar, o moço atendeu tão bem, um moreno lindo, alto, sensual, nem te conto". Penso, "melhor nem contar, com o peso que estou na consciência é melhor nem contar". Atarantado atravesso a rua, quase atropelado por uma bicicleta, vou em direção ao carro e não acredito; levaram o estepe, fechadura arrombada de novo. Assim, perdido em meus sentimentos, ouço "boa noite"; digo "boa". "Ela vai gostar". Balbucio... "com certeza vai..."