PRECONCEITO
Qualquer tipo de preconceito é horrível. Mas na escala de valores, penso que o preconceito contra as pessoas de mais idade é o pior. Isso porque tal atitude não atinge somente ao idoso, mas a toda a sociedade que vai se privar da experiência e sabedoria acumuladas por ele ao longo de sua vida. As pessoas que chegam aos cinqüenta já começam a perceber isso. E quanto mais avançam no tempo mais visível fica o maldito preconceito. Aliás, esse tipo de conduta, é bom que se diga, é próprio das pessoas que têm menos experiência de vida e por isso mesmo, menos preparo para pensar, planejar, coordenar e executar um projeto. É como se tivéssemos num cofre as plantas e estudos da construção de um complexo rodoviário, do solo, do impacto sócio-econômico, do material a ser usado, da necessidade do mesmo e dos meios disponíveis, inclusive parcerias, e desprezássemos esse material ricamente elaborado, e entregássemos a um grupo para realizar a obra sem usar o conhecimento já conhecido. O resultado seria trabalho em dobro e incerteza quanto aos resultados. Lembro-me de determinada época em minha vida e de minha esposa na qual tínhamos uma atividade pastoral muito grande, por mais de vinte anos, quando entrávamos na faixa dos sessenta. Coordenávamos um grupo muito produtivo composto de pessoas de mais idade e jovens, no qual se mesclava a experiência e sabedoria com a vitalidade da juventude. Tudo dava certo e os resultados eram maravilhosos na vida dos participantes e da comunidade. Aconteceu que uma pessoa hierarquicamente superior nos aconselhou a irmos descansar, pois já havíamos feito muito e era hora de dar a vez para os mais novos. Muito tristes obedecemos e enterramos os talentos que Deus nos dera. Recuso-me a falar dos resultados que sobrevieram. Só sei que aos poucos, os outros mais experientes foram sendo afastados, paulatinamente, como se tivéssemos na testa impressa uma etiqueta de prazo de validade vencida. Triste preconceito que afasta a mão de obra qualificada numa “messe em que os operários são poucos.” Esquecem que os grandes vultos da nossa história, como os últimos Papas, foram escolhidos após os setenta anos; os Césares do Império Romano, na mesma linha; Abraão, com mais de 90 anos, iniciando a caminhada para a terra prometida; Moisés, aos 80 anos conduzindo o povo pelo deserto; Winston Churchill, com 76 anos sendo eleito primeiro ministro da Inglaterra e tantos outros, constituindo um número inesgotável. Hoje, aos 72 anos, exerço a advocacia, e fico perplexo quando ouço algumas pessoas dizendo: está na hora de parar; você precisa descansar. Dirijo uma Plenária de Conselhos Comunitários, com 25 Conselhos, reunindo, na forma dos Estatutos, 100 líderes, sem contar os coordenadores, realizando cerca de 20 Cursos profissionais que visam dar empregabilidade e cidadania as pessoas com pouco ou nenhum poder aquisitivo. Dedico a essa Entidade minha experiência, sabedoria acumulada, meu tempo e até recursos. E essa semana ouvi alguém dizer que estava na hora de me aposentar. É muito triste esse tipo de cultura rasteira que não se levanta para ver o horizonte. O pior é que esse tipo de preconceito é próprio de Países subdesenvolvidos, o que indica que temos que nos dedicar muito à Educação e Cultura. Estou pensando, seriamente, em criar um Instituto da melhor idade! Eu disse de propósito melhor idade e não terceira idade, porque esse último tipo de nome já é uma forma de preconceito. Com um Instituto assim, poderíamos nós, da “melhor idade”, fornecer aos mais novos e à sociedade em geral o imenso tesouro que acumulamos com a nossa experiência e vivência, e isso sem custar um tostão, pois a alegria dos mais sábios é repartir para se construir uma sociedade mais justa, fraterna e desenvolvida.