GRANDE NOITE!

Por Ulisflávio Oliveira Evangelista

As coisas realmente nem sempre acontecem como deveriam acontecer, ou pelo menos, não da maneira como se planeja. Vou explicar a situação vivida pelo Herbert, pobre Herbert.

A rotina pesada experimentada de segunda a sexta-feira no escritório deve ser recompensada nos finais de semana, esse era o seu pensamento, quase uma nova filosofia de vida. Finalmente sábado! – gritou Herbert ao entrar sozinho em seu novo carro para comprar pão francês na padaria próximo de seu apartamento.

Feito sua refeição de maneira magistral, com direito a cereais em barra, sucos de frutas da estação e claro, o pãozinho quente recém comprado na padaria, Herbert ansioso, pega o telefone com um objetivo fixo na mente: contatos para a saída de logo mais. Após trocar poucas falas com os amigos, finalmente se chega a uma decisão, um lugar, um point. Herbert pensava: “o sábado está garantido!”. Marcaram para se encontrar em uma casa noturna recém inaugurada e que, segundo esses mesmos amigos, leia-se: Ronaldo – um design carioca; Felipe – um montador de PC desempregado; além do próprio Herbert, o lugar prometia muita agitação.

Ronaldo é o primeiro a estacionar seu carro, sempre pontual, ele aguarda o restante do grupo ou bando – dependendo da quantidade de álcool ingerido. Pouco mais de quinze minutos se passam e logo Herbert e Felipe apontam no cruzamento da Vieira Souto com a rua Maria Nagib. Ao sair do carro, Felipe já anuncia: “o lugar vai estar bombando de gente bonita, coisa chique, alta classe mesmo”, em resposta Herbert diz: “Tomara. Viu, não vai bater com a força a porta, hein?”.

Após a primeira vistoria dos seguranças – procedimento comum ao entrar em uma casa noturna – o grupo se mistura em meio à multidão que lotava o lugar, as pessoas mexiam os corpos embalados por ritmos eletrônicos compassados. A pouca iluminação do lugar, aumentava ainda mais sensação de prazer e êxtase.

Feito o “reconhecimento” do lugar, Felipe já arriscava alguns flertes, umas trocas de olhares, conversas mal ensaiadas e, claro, alguns foras. Notem que disse “alguns” foras. Depois de colecionar “alguns” desses, finalmente Felipe conseguiu o que queria, tivera um pouco mais de sorte ou pena por parte da Andréia, enfim, o importante é que ficaram juntos. Nesta altura do campeonato, Ronaldo com o seu sotaque extravagante, de fato fazia sucesso com o mulherio, era novo, tinha um bom emprego e sabia como “chegar” em uma mulher, olhando sua atuação parecia coisa simples, mais ou menos assim: ele chegava, mirava, atacava e levava, quase uma espécie de manual de caça ao público feminino, acho até que vou propor está idéia para ele, quem sabe vende, né?

Parecia final feliz pra todo mundo, mas Herbert ainda estava meio “encalhado”, verdade seja dita, ele havia tentado “chegar” em algumas mulheres, mas só ficava na conversa e risada, quando tentava uma “investida” mais comprometedora o sinal vermelho acendia e Herbert voltava a circular em meio ao vazio da casa noturna. A hora passava e Herbert sem mais opções, recorria a tradicional bebedeira. Já havia misturado todo tipo de drink, dos destilados aos fermentados. O desânimo misturado com a raiva, sono e a bebedeira foram o estopim para Herbert. Decidira ir embora sem avisar os amigos, sem deixar rastros ou sinais. Assim foi feito, ao sair da casa noturna em direção ao lugar onde estava o carro, notou algo diferente, no lugar estipulado só havia uma coisa: um buraco vazio. Estarrecido, pensou: grande noite!

Ulisflávio Evangelista
Enviado por Ulisflávio Evangelista em 01/09/2007
Reeditado em 17/09/2007
Código do texto: T634077