O voto capado da auto-estima dos vencedores
"Em entrevista ao Valor Econômico, Paulo Zottolo, um dos líderes do movimento Cansei diz que "não se pode pensar que o país é um Piauí" e que "se o Piauí deixar de existir ninguém vai ficar chateado".
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“...Ninguém conseguirá, em tempo algum, tirar a auto-estima de vencedores...” (Marcus Cavalcante - http://mcavalcante.blogspot.com/)
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Na esquina, em roupas copiadas das telas de Tv, elas vão se apinhando ao deitar do sol. Velhos “fregueses” – vencedores na vida -, em carros cada vez mais novos, buscam seus depósitos de espermas – já quase cegos pela gala seca!
Nildinha reclama com o busto cheio de peitos em decadência, parca infância e uma adolescência de abrir e fechar pernas incessantes: “Depois de capada, não tô arranjando mais nada... fazer o quê? Se eu deixar de existir ninguém vai ficar chateado...
Dói o semblante da alma na costumeira rotina da sobrevivência; “Elas agradam a Deus fazendo o que o diabo (ou o político) gosta”. O pensamento no filho em casa, roupas jogadas ao chão, uma dose de “Cinderela” – comprada nos flanelinhas das esquinas – pronta para um uso de emergência... A estima do vencedor fungando, demorando... “chapado” de uísque; exigente nas posições reclamadas pela patroa no “lar, doce lar”.
Para os vencedores, entre o cabaré e a Igreja, sustenta-se a família. A auto-estima dos conquistadores sorri à toa nas mesas de boa conduta e lugares requintados; a pobre puta, recheada de culotes, vive a esperança da fuga do homem de boa índole pulando a cerca... E não são poucos!
Nildinha está fadada ao ostracismo de puteiros de esquina. Antes, quando menor, protegidas por policiais, querida dos bens “dotados”, adulada para os convívios do poder: político, dinheiro e sexo... O tempo incauto roubando-lhe a graça, dando-lhe de sobra o sobejo do desprezo dos homens: carne flácida, filho entregue a pouca sorte... maquiagem por todos os lados.
Voltei à minha infância, revi Buim, amarrado, jogado ao chão. O sangue foi pouco; corte rápido e certeiro: Pronto! Buim estava sem os dois “ovos”. Durante muito tempo o vi crescer e engordar, uma dormência de dar pena, encostado pelos cantos sem mais querer uma conquista.
Nildinha, Buim e o meu Piaui: três capados! Ela, pelas mãos do servilismo político que tudo arranha em troca de voto; Buim, pela ganância do homem em tudo querer ter mais e o desprezo pelos sugados; meu Piauí, por um bairrismo incidental que vez por outra sangra dos cortes das “deselegâncias” da verbosidade... Perdoem a minha!
A noite vai pela meia vida, como nosso Piauí: amado pelos sugadores de plantão, defendido pelos que ainda sonham com mudanças... Pergunto-me, ainda: mudanças na terra ou na consciência dos homens piauienses de boa vontade? Uma última olhada para Nildinha, sozinha no ponto; quem sabe algum bêbado de última hora. Os vencedores descendo, sem mais parar... Fartos nos seus anseios incontidos.
Vou caminhando trôpego rumo ao carrinho de espetinho: a última broca da noite...
- Espetinho de porco, amigo!
Desisti! Lembrei de Buim, meu leitão preferido; capado para engordar.
Até mais ler pelos cortes que nos “capam” na vida!