Como uma Bala Perdida
A passarela às margens do Rio Perequê-Açu era a pista do trotes empinados de Teresa. Ao lado da ponte eu admirava os seus movimentos e a via se distanciar. Sua imagem ficava pequena, todavia eu tinha a certeza da sua volta suada e cansada a aguardando com uma deliciosa água de coco.
Uma noite, após iniciar o seu Cooper, Teresa parou e se interpôs entre uma jovem que carregava em seu colo uma criança e um homem de cabelos grisalhos. A atrevida ninfeta protegida pela "Penha" exagerava um discurso com o pai de seu bebê e lhe lançava grandes ofensas. Em meio as palavras perdidas, a minha experiente companheira recebeu um balaço em suas ventas:
- O que é que a senhora está olhando?
- Não tenha nada pra fazer em casa não?
Teresa não resistiu ao sofrimento da assustada criança e tentou argumentar contra a ignorância de uma mãe irresponsável e a fraqueza emocional de um pai cansado. Foi perda de tempo, pois os dois estavam atordoados pela situação em que viviam e passaram a se agredir quase que fisicamente.
Assustada, a pobre defensora dos fracos e oprimidos desistiu da ideia de apaziguar o casal e voltou caminhando lentamente ao meu encontro. Não havia sede, suor e encanto. Existiam apenas lamentos pelo conceito da família estar se deteriorando. Suas palavras foram perdidas tal qual a palavras gigantes que bateram em seu peito.
No dia seguinte, iniciamos uma caminhada na orla do rio quando cruzamos com a família em harmonioso passeio.
Olhei para minha senhora e usei a expressão idiomática:
“Briga de Marido e Mulher, Ninguém mete a Colher.”