Intertextualidade “A Galinha dos Ovos de Ouro”
ERA UMA VEZ um casal que vivia numa cidade maravilhosa. Eles eram conhecidos por serem muito cobiçosos e nunca estarem satisfeitos com nada. Se estava sol, queixavam-se do calor; se estava frio e chuva queixavam-se de viver numa cidade rodeada de turistas pela sua beleza encantada.
Para além do mais, eram capazes de tudo por uma moeda de ouro!
Um dia, um duende brincalhão que por ali passava ouviu o que se comentava na cidade sobre esse casal, e decidiu provar se era verdade tudo aquilo que se dizia sobre eles.
Numa tarde em que o marido corria nos ares da Floresta da Tijuca, o duende apareceu-lhe de dentro do tronco de uma árvore e disse-lhe: “Olá bom homem! Sentes-te bem? Pareces cheio de cansaço… Será que estás com fome ou doente?
O homem, um pouco assustado com a presença do duende, respondeu: “Não… não estou doente nem cansado, e também não tenho fome… nada de mal se passa comigo. Só estou triste porque eu e a minha mulher somos pobres e não conseguimos ter muitas coisas boas como gostaríamos de ter…
Então o duende respondeu: ”Se não tens fome nem frio nem estás doente, então alegra-te porque não és pobre!”.
Mas o homem insistiu: “Sou sim. Um homem que não tem ouro é pobre!”.
O duende riu-se e respondeu: “Olha que estás enganado. Eu se quiser posso ter todo o ouro do mundo, pois como sou duende sei onde se escondem todos os tesouros. Mas a mim o que me faz falta é a luz do dia, ter o que comer e uma casa quentinha onde possa dormir descansado. Além disso preciso de ter saúde e ser forte para poder caminhar e apreciar tudo o que me rodeia. E como tenho tudo isso sou muito rico e feliz!
“Disparate!” Disse o homem, e insistiu “Ser pobre quer dizer que não se tem ouro. E como eu não tenho ouro não posso ser feliz”.
“Tenho muita pena de ti homem” disse-lhe o duende “E para que sejas feliz como achas que deves ser, vou dar-te um cargo de poder, vou transformá-lo em Governador do Estado e terás a visão de uma galinha que todos os dias porá um ovo de ouro. Só terás de esperar e recolher todos os dias um ovo. “Não tarda nada, terás todo o ouro que sempre desejaste ter e tu e a tua mulher serão felizes para sempre”.
Do tronco onde estava o duende saiu uma galinha que cacarejava alegremente. O homem, espantado, colocou-a rapidamente debaixo do braço e desatou a correr ladeiro abaixo direitinho à casa, enquanto o duende ria às gargalhadas.
Assim que entrou em casa mostrou à sua esposa a galinha e contou-lhe tudo o que tinha acontecido.
Marido e mulher ficaram toda a noite à espera que a galinha pusesse o tão desejado ovo de ouro. De manhã cedo, a galinha começou a cacarejar e, pouco depois, surgiu debaixo dela um enorme e brilhante ovo de ouro!
Ao verem o ovo, o casal ficou radiante, pois nele havia a descrição de projetos sociais e esportivos capazes de lhes darem fortunas, mas minutos depois, a mulher comentou: “Que chatice… teremos de esperar até amanhã para termos outro ovo de ouro!”. Ao que o marido respondeu: “Pois é… que azar. Terão de passar muitas semanas até termos ovos suficientes para sermos os mais ricos da cidade. Devia ser por isso que o duende se ria às gargalhadas quando me deu a galinha”.
Então a mulher lembrou-se: “Sempre ouvi dizer que as galinhas já têm dentro delas todos os ovos que vão pôr… Se isso é verdade, porque é que não matamos agora a galinha e tiramos todos os ovos de ouro de uma vez? Seremos bem mais espertos do que o duende pensa!”.
O homem concordou, e sem hesitar, pegaram na pobre galinha e abriram-na para assim poderem tirar todos os ovos.
Mas qual não foi o espanto do casal ao ver que dentro da galinha não havia nenhum ovo de ouro…
Marido e mulher começaram a praguejar e a chorar, lamentando-se da sua sorte, pois por uma hipérbole de ganância tinham perdido para sempre a galinha dos ovos de ouro.
Espreitando pela janela, o duende ria-se e abanava a cabeça, pensando que a verdadeira felicidade não está em ter ou não ouro mas está sim no coração de cada um.