Gentileza Gera Gentileza
 
     Na década de 80, eu pegava o ônibus da Linha 384, Castelo—Anchieta, em Guadalupe, e um senhor caracterizado como um profeta entrava pela porta da frente e nos olhava serenamente com uma intensa gentileza. Aquele gesto chamava a minha atenção e pessoas especulavam a possibilidade do homem ser um pobre andarilho que se tornara louco por causa de um desastre acontecido com toda a sua família, a qual foi atingida por um incêndio em um circo.
     Tornou-se rotina este encontro e ele descia na rodoviária da cidade para logo após eu tornar a vê-lo escalando a parede sob o Viaduto da Perimetral  escrevendo uma mensagem de conforto para toda a humanidade. Não havia imagens em seu texto, mas a caligrafia era ilustre, uma fonte peculiar que somente alguém com tanta certeza tinha o dom de transmitir frases tão sábias.
     Eu não possuía o hábito de leitura, mas uma frase adentrava em minha memória eternizando-se:  “Gentileza Gera Gentileza”.
     Passaram-se décadas e o tempo alterou o meu comportamento, modificou a minha postura em respeito ao próximo e fez com que eu transitasse em conformidade. Eu não teria a coragem de viver escalando viadutos para parafrasear  as mensagens do profeta, entretanto eu as posso intertextualizar, pois o mundo cita:

“Gentileza Gera Gentileza”

     Frase que ilustra o muro de uma pequena casa no bairro de Coroado, Carangola, Minas Gerais.

 
 
Ed Ramos
Enviado por Ed Ramos em 28/04/2018
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