OUVIR E ESCUTAR

OUVIR E ESCUTAR

...vendo, não vêem; e, ouvindo, nem entendem.

Mateus13: 13

Alguma vez você, leitor, que me lê, no meio de uma conversa com os amigos ao redor de uma mesa de reunião ou, até mesmo numa acalorada mesa de bar, já parou para pensar o que significa ouvir o outro? Ou escutar o outro? Qual dessas habilidades é mais importante para criarmos um ambiente de paz, harmonia, compreensão? Um ambiente mais solidário?

Pois bem, vamos ao dicionário consultar o nosso famoso Aurélio. Escutar, palavra que vem do latim auscultare que significa tornar-se ou estar atento para ouvir; aplicar o ouvido com atenção e, por aí vai. Ouvir é audire em latim, que significa ouvir os sons de, perceber pelo sentido da audição.

Os significados dessas palavras são um pouco diferentes. A diferença de sentido entre elas é carregada de muita força. Quando falamos com uma ou mais pessoas precisamos estabelecer contatos e, a meu ver, esse contato deve ser primeiro estabelecido pelo olhar e depois pela escuta, a fim de que eu possa entender o outro. Ouvir, quase todos podem, mas não entendidos. Posso ouvir sem escutar nada. Entretanto, não posso escutar sem ouvir.

Ouvindo, não me envolvo com os sentimentos do outro. Não interajo. Sendo assim, parece que os sentimentos do outro não são reconhecidos por aquele que somente ouve.

A palavra tem um poder muito grande quando é proferida. Se não for escutada e entendida perfeitamente, pode ser a causadora de muitos conflitos, “guerras”, desavenças.

Quantas vezes já perguntamos ao outro: Você ouviu o que eu disse? Essa pergunta nos revela que não houve um entendimento; o discurso se perdeu, e a “guerra” foi instalada. Justamente porque não escutamos o outro, simplesmente o ouvimos, e só. Não entendemos e nem compreendemos a mensagem. Não basta somente ouvir, temos que escutá-lo. Dependendo do que se deseja estabelecer, não seria melhor perguntar: Você escutou o que eu disse? A resposta a essa pergunta poderia ser: Desculpe-me! Daria para você repetir? Não ouvi direito!

Quando eu me proponho a ouvir, o outro desabafa. Ao contrário, quando escuto, o outro fica seguro, confiante, e eu, a partir de sua fala, elaboro e reelaboro conceitos e reflexões, na tentativa de ajudá-lo. As palavras e

os gestos, nesse ponto da escuta, revelam que eu demonstro preocupação com o meu interlocutor . Com essa atitude, o outro sente-se bem, pois o “escutante” ( e não o “ouvinte”) deu importância a suas palavras.

Ouvir é um ato importante, embora passivo; o ato de escutar é ativo. Escutar é relacionar-se com o outro de uma maneira mais intensa; é colaborar, ajudar a se ajudar, sem perder a humildade, que é outro ponto da questão, que merece atenção e muita reflexão.

Ao escutar, eu me envolvo com o outro. Coloco-me em seu lugar. Não julgo. Escuto. Sinto o outro. Participo de suas angústias, tristezas, alegrias. Reflito junto com ele. Penso junto. Unem-se fala e pensamento.

À medida que eu ouço, eu decifro, decodifico. Quando escuto, eu compreendo. Concentro-me no outro. Mais ainda, interpreto. Escuto e aprendo a escutar. Escuto e me importo com o outro. Escuto e me relaciono. Escuto e observo. Escuto e estendo a mão.

Talvez, o que nos falte seja reaprender essas mínimas coisas, como observar mais, ajudar mais, ser mais solidários. Julgar menos. Doar-se mais. Importar-se mais com o outro. Colaborar mais. Apaixonar-se mais. Viver mais. Dedicar-se mais. Ao outro. Ao nosso próximo. Enfim, escutá-lo mais.

Valmir Contiero
Enviado por Valmir Contiero em 30/08/2007
Código do texto: T631352