Cascatear de Lembranças

Ontem visitei um casal de amigos. Amigos de verdade. Amigos de toda auma vida. Pessoas com mais instrução que eu, muito mais, mas, por incrível que pareça, mais simples que este véio caduco. Passei momentos arretados, somente ouvindo os causos que eles contavam. Motivo: escrevendo até conto um causo, uma anedota, uma historinha, mas ao vivo, pessoalmente, sou uma absoluta nulidade. Fustigo, incito, lembro, mas naotenho o talento natural para contar um causo pessoalmente. Diferente desses amigos que fazem até munganga imitando os personagens. Não riam, essa amiga contou um causo me imitando, meus pés zambetas,minha voz cansada e rouquenha, meus erros de português, sempre falando como o povo fala, errado.

Quando votei para casa fiquei pensando que conversamsos tanto, mais de três horas, unicamente sobre nossa terrinha. Tinha razão Nabuco que quando lembrava sua terra dizia, "mmeu berço e túmulo dos antepassados" É a nossa patriazinha, a Miraí que Ataulfo Alves homenageou num samba famoso. Fui aos guardados e retirei um livro de poemas de um poeta pesquirense, Luiz Cristovão dos Santos, e li um soneto dele: "Ai chão da minha infância iluminada/ No sol vivo do agreste e do sertão/ Aonde tenho a minha alma enraizada!// Tocadas de mistério e magia/ Quixabeiras em flor, nesta paisagem!/ O riacho desliza e na sua viagem/ Desfaz em espuma a sua nostalgia!// Se recuo no tempo da lembrança A primeira que chega, sem tardança,/ É a voz da minha mãe me acalentando!// Ai terra que teceste o meu destino/ Pois, homem feito, volto a ser menino/ Te querendo, te aando/ te lembrando!".

Chamo a esses papos com os amigos de cascatear de lembranças, sempre me comovo quando elas começam a fazer aquela zoada da saudade, sinto não saber contar pessoalamente as lembranças como fazem meus amigos. Mas sei ouvir e, nao raro, chorar de felicidade. E nostalgia.

Sei que nem todos gostam dessas evocações de coroas. admito e respeito, mas deixo para reflexão delas o queescreveu o grande crosnista pernambucano Antonio Maria:

"Não desprezeis minhas humildes saudades, mas buscai, em vossa meninice, lembranças parecidas com estas e elas vos restituirão um certo apego, um pouco de bem querer aos dias de hoje, tão sem graça em sua maoria".

Ah, adoro o cascatear de lembranças.. Inté.