Minha plena sensatez
Eu também não sei quem sou – contou ele.
Não sei se sou o mar, que rege as ondas, que batem e voltam ao oceano de imensidão. Também não sei se sou ventania, que passa por essa vida deixando rastros de destruição. Não sei, também, o que sou.
As vezes pareço triste. Mais quieto do que você gostaria. Mas não estou. Na verdade estou pensando em você e o que faço para te agradar no próximo segundo. Pareço quieto, eu sei. Mas não estou. Estou pensando no filme que podemos assistir no sábado à noite, na novela que pode te fazer chorar. Pensando em não demonstrar que nervoso fico quando você coloca as suas pernas em cima das minhas.
Pareço quieto, cansado. Na verdade, estou pronto para te atender. Pode me contar seu dia, estou escutando cada vírgula. Pode me falar da matemática, que eu vou corrigir seu português. Pode ficar a noite toda me dizendo coisas que não entendo, coisas do seu mundo, e eu estarei aqui ainda te escutando.
Apenas pareço quieto. Mas por dentro há uma imensidão de felicidade. Há sentimentos de gratidão por toda parte de mim e amor, que forma o meu ser. Por vezes pareço que não ligo, mas tenha certeza: suas angústias são as minhas.
Posso ouvir calado sua dor, mas me castigo por dentro, tentando ser forte diante de seus olhos para que não desista por uma simples pedra que apareceu em seu caminho. Aliás, estou eu quieto, pensando em como deixar seu caminho tranquilo, com qualquer que seja minha contribuição.
Aqui estou quieto, pensando em palavras bonitas para te dizer pela manhã e lembrando das tarefas que preciso atender antes que me cobre de novo.
Estou quieto, mas por dentro grito seu nome, peço a sua ajuda e suplico, grito ao universo, para que entenda a minha paz e não deixe, nem por seu segundo de insensatez, de confiar no meu amor.
Estou quieto, estou. E pensando em você.
Na verdade não sei o que sou. Se o mar ou ventania. Se amor ou destruição.