Anticomunismo nos anos dourados

A minha saudosa avó materna quando me via arngando com meus irmãos e primos, sempre dizia se referindo a mim: "Deus escreve por linhas tortas, se esse menino não tivesse herdado de Rugero (era assim que chamava meu saudoso avô) um gato nos peitos (a asma) ele era pior que o raio da cilibrina e o cão do segundo livro de Felisberto Carvalho (existia mesmo esse livro e o personagem).

Assumo que sempre fui mesmo arengueiro e que a asma sempre limitou meio raio de ação (gostaram da expressão?), mas não era mau (nunca fui), só arengueiro e armador de presepadas. Agora, desde criança nunca usei barbicacho e nem freio na língua.

Vou contar um causo acontecido nos anos dourados, algo verdadeiro e que fui protagonista. Veja bem, quando era adolescente era a época mais braba e difícil para quem era filho de comunista e meu pai era comunista (e espírita, juro). As provocações eram diárias, filho de comunista sofria mais que bode embarcado. Mas eu reagia. Nunca me acovardei e nem deixei de responde r às provocações.

Pois bem, quando cursava o primeiro ano ginasial havia um professor de desenho e educação física, o sargento do Tiro de Guerra, que era um anticomunista feroz. Eu não frequentava as aulas de educação física por causa da asma, mas nao escapava das de desenho. Esse sargentão, só tinha o curso ginasial, mas ensinava desenho porque o colégio não tinha outra opção e arrnjaram um jeitinho. Bom, as aulas dele com aquele esquadro e transferidos de madeira, aqueles ângulos, sem saber ensinar direito, mas tudo bem, dava para se entender a matéria. Mas ele aproveitava as aulas para falar mal do comunismo. Metia o cacete. Eu ficava puto, mas nada dizia, afinal ele falava mal da ideologia. Mas um da ele chegou de ovo virado, sem dúvida levara um corretivo em casa, e começou a dscontar sua ira não só no comunismo, na ideologia, mas nos comunistas. Vermelho que nem um pimentão, ele urrou: - Todo comunista é um assalariado de Moscou e traidor da pátria. Quem é comunista trai a pátria e a família. Não tive dúvida levantei o braço e ele ainda furioso urrou: - Fale! Eu perguntei: -Sargento (não chamei de professor como ele exigia), o senhor lutou em alguma guerra? Ele ficou meio desconfiado e respondeu: - Não fui à Itália mas fiquei mobilizado. Sempre estive e estou a serviço da pátria. Fui ao ponto: - Pois eu tenho um tio, por parte de mãe, que lutou na Itália, foi herói de guerra, condecorado e que diz - um dia desses ele esteve em nossa casa - que lutou ao lado de vários comunistas, ele mesmo simpatiza com os comunistas, e foi ferido na guerra, então os comunistas não são traidores da pátria. O senhor nunca lutou, dirige um tirinho de guerrra mixuruca onde os fuzis são de enfeite e não atiram. lém disso é mau professor. O senhor devia era respeitar os outros, comunismo não tem nada a ver com desenho. Mas amanhã vou fazer um teste com o senhor, voutrazer meu pai aqui para o senhor repetir na frente dele que todo comunista é traidor da pátria e assalariado de Moscou. Não prestou, o sejeito largou o esquadro e o transferidor e de vermelho que nem pimentão ficou branco como uma parede, e foi embora. Daí a pouco o secretário do colégio veio me chamar para falar com o diretor, o padre. Ele aperriadome disse: - Você quer matar o sargento, rapaz? Ele quase teve um infarto. Não diga nada ao seu pai, não. De agora por diante ele nao vai mais falar de outro assunto nas aulas que não seja de desenho.

Desse dia em diante o sargentão nunca mais teve chilique anticomunista. E eu só tirava dez em desenho. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 05/04/2018
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