Vistoria Cruel

De vez em quando uma amiga me chama à atenção sobre a minha mania(dizem até que virou vício) de enaltecer o passado, enfeitando em demasia o maracá daquela época em que vivi minha infância e adolescência, Quando no melhor da festa", ou seja, fazendo as minhas comprações entre o ontem e o hoje (o ontem sempre vencendo de 7 X 1 hoje), ela intervem e corta o meu barato, cita um preconceito e crueldade do passado.

Dia desses estava babando o romantismo nos anos dourados, empolgado, falei em serenatas, versos e flores, cartas de amor, declarações e etc e coisa e tal, quando a danadinha perguntou:

- Bicho, você não vai lembrar o romantismo das famosas vistorias?

Foi um balde de água fria, ou uma chaleira de água fervendo que quando derramam e atinge a gente queima e péla. Ela se referiu às vistorias cruéis. Explico: naquela época a muher só casava virgem, na primeira noite o marido tinha que rompewr o himen que estava intacto (expressão horrível). Se não estivesse não era moça, não era virgem, era, como se dizia ana época, furada. Se por acaso cassasse e o marido nao aceitasse o fato podia devolver, a Igreja e a Justiça dissolviam o casamento. So casava com uma moça que já tinha tido relação sexual com outro o cara que tinha vocação para corno. Era o pensamento e a tradição da época. Essa era a mentalidade em vigor. Horrível.

Tem mais, na época o sujeito que "deflorava" (era a exporessão usada) uma moça de familia era obrigado a casar, ou casava ou... Ou poderia morrer. O pai e os irmãos da "desvirginada" nao podiam ficar desmoralizados.

Mas o pai do cara que "fez mal à moça" (outra expressão daquele tempo) podia exigir uma prova que a moça de fato tinha sido desvirginada. E isso era feito por meio de uma vistoria médica. Uma tremenda crueldade, constarngimento, maldade. A moça vinha com os pais dela num carro de praça e os do rapaz em outro. Paravam na frente do consultório do médico e entravam, a moça de cabeça baixa, aquele climão. Eu e essa amiga morávamos perto do consultório médicoe vimos algumas dessas cenas, da chegada da comitiva para a vistoria. Bom, se o tal himen estivesse rompido havia o casamento, caso contrario, não havia. Esquecia-se o fato. Mas ainda tinha um dado, quando realmente a mooça havia perdido a virgindade, além do constrangimento, ela sempre levava uns tabefes do pai, no consutório, avalie quando chegava em casa... Depois casava, mas ninguem esquecia o fato.

Nesse dia que a amiga cortou meu barato lembrando as vistorias fiquei tristes e com vergonha dessa crueldade do passado. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 18/03/2018
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