DA CASAS DAS PRETAS
Assistindo ao vídeo do evento "Jovens Negras Movendo as Estruturas" na Casa das Pretas, na rua dos Inválidos, que teve a participação da vereadora Marielle Franco, tive a percepção da necessidade para a resistência das populações periféricas, a ocupação dos antigos sobrados localizados no Centro do Rio.
O Centro do Rio é estrategicamente viável por ter sido o palco das grandes transformações ao curso da história, como o Cais do Valongo, porta de entrada para mais de 500 mil africanos, que foram trazidos como escravos para o Brasil.
São exatamente os pretos, os pobres e os periféricos que têm representatividade dentro das Organizações não governamentais com sede no Centro.
Durante duas décadas tive a oportunidade, como cidadão participativo, de dirigir a Casa do Menor Trabalhador, sediada em um sobrado construído pelos portugueses em 1911, na Senador Pompeu, Central do Brasil, de arquitetura semelhante à Casa das Pretas.
A CMT atendeu durante quarenta e oito anos de atividades ininterruptas, mais de trinta mil jovens adolescentes privados de oportunidades pelo poder público, o que prejudica o desenvolvimento coletivo e a ascensão pessoal.
Da Casas das Pretas, em uma rotina de diálogo, de socialização, de preservação e valorização cultural, de emponderamento feminino e de busca por alternativas, Marielle encerrou o encontro dizendo :"Vamos ocupar tudo"!
Depois desceu as escadas e entrou no carro, enquanto os assassinos, como o representante do exército no atentado do Rio Centro, manejavam uma arma, perigosa como as panelas do golpe, e silenciaram mais uma voz contra a incessante chegada de navios ao Valongo.
Ricardo Mezavila.