Camisa de Don Corleone

Mesmo com dores nas costas e nas pernas (véio sofre mais que bode embarcado), tive que ir até uma livraria aqui do bairro tirar ua cópia de uns documentos para a "bendita" declaração do imposto de renda, quem faz é um amigo e um portador viera buscar tais documentos. Saí andando devagar, devagarinho, quase parando, aliás, parando de vez em quando para recuperar o fôlego e descansar pernas e coluna.

Bom, quando cheguei à parte da livraria onde se tira cópias xeróx, estava cheio, fiquei esperando sentadinho numa cadeia bamba destinada aos véios. Fiquei ali manando o ambiente e ouvindo as besteiras. Quando chegou minha vez, o rapaz fez o boleto, fui pagar no caixa e voltei pra pegar as cópias. Foi na hora que chegou, vi pelo canto do olho, dei uma olhadinha, porque o cara chegou mandando, era um coroa mais véio que eu, mas todo enfeitado, fantasiado de garotão, cabelo pinado daquela cor de tijolo, medalhas, pylseiras e até tatuagem gigante. Era meio forte, mas mesmo fantasiado nao dava apara esconder as marcas do tempo, mas estava acompanhado de uma moça acho que mais nova que minha neta, uma moça que devia ter no máximo uns 21 anos. O rapaz do xeróx, cochichou no meu ouvido: - Véio, teu colega enfeitado é casato com essa gata. Fiquei perplexo, mas não tinha nada a ver com o problema, gás para a mulher com certeza ele não tinha, mas... Bom, de repente entrou também um garoto, um estudante, de no máximo 16 ou 17 anos, com aquelabolsa gignte nas costas (vai adoecer da coluna sem dúvida) e, sem querer, esbarrou no coroa. Educado, o que é raro, o garoto disse: - Desculpa Vô, foi mal, foi sem querer. Desculpa, vô! Pra que o menino disse isso, o coroa se enfureceu e começou a esculhambar com o garoto: - Cabra safado, filho da puta, quer me ridicularizar me chamando de avô. Não lhe dei essa pemissão, seu moleque safado. O menino ficou assutado, tremendo, não consguia nem balbuciar nada e ele esculhambando. Aos berros. Puto com a expressão "vô".

Veam bem, se alguém me der um empurrão com um dedo caio imediatamente no chão. Mas sou um caso perdido, não me domino, fiquei com pena do menino e revoltado com a inustiça. Não contei até trê, não ponderei, não avaliei nada, me virei e encarei o sujeito, olhei nos ohos dele, ele parou a esculhambação, notou que eu não gostara, empinou o queio como se estivesse perguntando se eu achara ruim. Antes que ele dissesse qualquer coisa eu fiz uma provocação radical: - Chefia - e apontei para a mulher dele - essa mocinha é sua neta? O cara fcou ais vemelho que u pimentão, como se estivesse entalado, e todo mundo rindo. Antes de qualquer reação dele eu avancei: - Você está comtendo uma inustiça com u menino educado, ele naolhe ofendeu, você tem mesmo idade de ser avô dele, talvez até bisavô, é mais velho que eu. Você devia se desculpar com o menino. O cara ficou bambo, indeciso, não sei se desconfiado de que eu fosse alguem importante, não sei... Mas aí chegou o gerente, seguranças e ele bradou: - Vamos benzinho, nunca mais boto os pé nessta merda de livraria.E se mandou.

Uma das funcionárias, que brinca muito comigo me chamando de véio bambo, me disse pra todo mundo ouvir: - O sujeito só amarelou porque você está com essa camisa de Don Corleone, do Poderoso Chefão. Era verdade, saí de casa com a velha camisa que durmo, um presente de um sobrinho, ela tem a efígie de Marlon Brando como Dom Corleone e uma rosa. Será que o sueito levou em conta a camisa? Faz sentido, mas o rapaz quetira as cópias me disse que o véio era frouxo, só tinha bocão. Que outro dia ali perto u chofer de táxi deu-lhe uma esculhamabação. Mas a verdade é que não me arrependi de ter defendido o garoto. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 16/03/2018
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