[Marechal Hermes, 28.8.2007]

Os bem-te-vis que demoram há séculos em nosso condomínio cantam a qualquer hora do dia claro. Agora mesmo, 11h30, lá está um casal, no telhado do prédio defronte ao meu: ele, sem a menor cerimônia, cagüetando todo mundo; ela, a siririca, fazendo o baixo. De tempos em tempos, indiferentes ao olhar do cronista, entregam-se aos beijos — beijos de biquinquim, no dizer riobaldo-tatarana. Uma vizinha contou-me que um dia desses um gavião safado bateu asas para os lados da siririca. O macho viu tudo, lógico, e enfrentou o grandalhão como um davi-das-alturas. Nenhuma surpresa. Nos últimos três anos os bem-te-vis vêm defendendo o seu território nos telhados de Marechal Hermes contra a invasão dos quero-queros, em plena fuga do verão sulino. Mas já se notam alguns exemplos de coexistência pacífica. Parece que os que chegam sabem realmente o que querem, e vão ficando, ao passo que a boa turma pitangus sulphuratus começa a fazer vista grossa, como é hábito entre seus primos bem-te-vizinhos, à aproximação dos barulhentos caradriiformes. Dou a maior força. Aguardemos os acontecimentos.