Síndrome Moderna

Não sei sobre pessoas que conseguem prevê o futuro, sobre algoritmos que determinam o próximo passo de uma sociedade baseados no padrão de comportamento ao longo dos anos, mas Zygmunt Bauman me parece possuidor de uma bola de cristal quando escreve sobre a liquidez das relações humanas na modernidade. É como se de alguma forma ele fosse capaz de ser conhecedor do nosso próximo passo e da escassez de significado de nossas ações para nós mesmos. De repente, vivemos num intenso estado de estrangeirismo, alheios inclusive daquilo que somos.

Não filtramos, nos tornamos supermáquinas de exposição e carregamos em nossos bolsos a ferramenta que nos alimenta em todo esse processo. Temos necessidade de externar para o mundo o que fazemos, comemos, bebemos, assistimos ou ouvimos. Como se isso não fosse o suficiente, nos assumimos vulneráveis a opinião alheia (aquela que em nossos discursos inspiradores dizemos muitas vezes não importar) e criamos enquetes sobre nossos cortes de cabelo, nossos corpos, aquilo que devemos ou não fazer, a roupa que iremos usar e o que devemos ou não comprar.

Estamos ali, nos configurando enquanto produtores de conteúdo em excesso – por muitas vezes irrelevante – sem nos perguntarmos o porquê. Já não temos sobre o que falar, tudo o que de fato parece interessar a nosso respeito está em nossa timeline. Nos negamos a conhecer outra versão de nós, anunciamos mudanças na inconsistência de momentos sobre os quais não paramos para refletir e observamos a vida sob filtros espetaculares com texturas do passado – como se fôssemos de fato capazes de resgatar significados que ficaram para os momentos que foram vividos, por outros.

Queremos ser vistos não mais lembrados. E nessa inconsciente busca de se fazer notar nos perdemos. E talvez em algum lugar no meio do caminho sejamos capazes de nos reconhecer, mas não estamos dispostos a voltar atrás. Nos definimos evoluídos, crescidos, aprendemos com nossas experiências. E então adentramos um novo ciclo, ainda vítimas dos mesmos erros porque aparentemente não aprendemos tanto quanto imaginávamos. Daí em diante, novos textos inspiradores, cruéis demais para serem lidos rapidamente, a vida nos faz piada e não entendemos. Não somos capazes, apenas compartilhamos.