Sartre e os negros

Estava em meio aos meus devaneios, conversando com os meus botões, assuntando a maçaranduba do tempo, depois de comer uma peixada, descansando do almoço numa rede branquinha do Ceará, quando de repente, nais que de repente, lembrei de um texto que li há vários anos numa revista ou jorna, não sei quem foi o autor, sobre a visita que Sartre fez ao Brasil em 1960, juntamente com sua esposa, a tamabém escritora, Simone de Beauvoir. Ele era uma celebridade, visitara Cuba, escrevera um livro sobre a Ilha, era romancista, ensaista, filósofo, um arretado. Resultado, o mundo social raptou-o para seus salões. E tome homenagens, saraus, almoços, jantares e o escambau. O cara foi ficando entediado, afinal viera ao Brasil para conhecer o país e o povo e estava refém do society. Então certa noite, num desses saraus, em que só havia lourows, brancos, olho azul, os morenos que apareciam eram morenos de praia, ofereceram a Sarte um pratinha contendo uma frutinha exótica da terra: era jabuticaba, bem pretinha, o filósofo comeu algumas e aí, olha o aí, vendo a cor das frutinhas fez a pergunta que não pode calar: - "Onde estão os negros?!!! Cadê os negros?!!!". Ora, ele, como todos os europeus, sabiam queo Brasil é um país de negros (com muito ogulho), mas não estava tendo acesso a essa maioria de brasileiros. Foi quando, enfim, a máscara caiu e um burguês, grãfino, prepotente, racista respondeu cínico, mas expressando o sentimento da casa grande: -"Estão por aí asssaltando chofer". Algo terrível mas verdadeiro, é esse o sentimentoque a casa grande tem sobre os brasileiros pobres, especialmente os negros. É uma cultura que, incusive, é imitada por vários segmentos da população, inclusive religiosos.

Sim,na rede do Ceará, assim que me lembrei de Sartree de sua pergunta incômoda para o soçaite, lembrei de algo que vi nas redes e nos jornais inclusive também na minha região. Refiro-me a campanha da fraternidade deste ano que tem por tema "Fraternidade e Suoeração da Violência" e o lema é "Em Cristo somos todos irmãos". Que tem a solenidade de lançamento com a pergunta de Sartre em 1960? Tudo. É que n solenidade e nem no cartaz anão vi nenhum mendigo, nenhum miserável, nenhuna criança desamparada, nenhum salário mínimo, nenhum dependente do bolsa família. Só vi autoridade, gente que tem emprego bom, que tem cargo, bico, meio de vida, tanto na mesa dos trabalhos como na platéia. Cadê os mideráveis? Se a campanha é em favor deles por que não são chamados para o lançamento? A verdade dói mas precisa ser dita: essas campanhas são um faz de conta, não se envolve os mideráveis e nem os pobres do salário mínimo e nem do bolsa família. Pronto, disse. Vou tirar uma soneca. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 04/03/2018
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