Peças avulsas num tabuleiro qualquer
Tomara
que aquelas rédias fugidas
voltem pra nossa mão.
A gente que se dizia tão diferente,
tão melhor do que o outro,
tão mais bonito do que o reflexo no espelho,
voltará a ser fruto da mesma raiz.
A vida nos fez ressecar o suor,
deixar o que era gostoso ficar puído,
ficar triste, ficar chateado.
O rio que deixávamos ir seu curso
encalhou nessas manias de achar
que valíamos mais do que vinha marcado na etiqueta.
Passamos a sentir cheiros que não nos pertenciam,
gostos intrusos que não lembravam o que fomos de fato,
viramos estorvos de nós mesmos,
meras peças avulsas num tabuleiro qualquer.
Tá na hora
de chamarmos o perdão de volta pra casa,
deixar de só fazer molecagens e virar gente de fato,
coisa que esquecemos a meada, o tom, o jeito, o gosto.
Tá na hora
de nos abraçarmos entrelaçando nossos poros,
nossos becos, nossas ferrugens, nossas rebarbas,
nossas farsas, nossos engasgos, nossos podres,
nossos pedaços fugidos, tantos pedaços.
Daí voltaremos a respirar o mesmo ar,
pisar no mesmo chão, aprumar o mesmo barco,
como certo foi, lembra?
Talvez, daí, quem sabe,
Deus se desarrependa de ter perdido tempo
pra fazer essa gentinha tacanha, malvada,
pequena, que só sabe fazer traquinagem,
só sabe destruir o belo, o gostoso, o do bem.
E fique feliz. De um jeito que nunca pensou
que poderia ficar certo dia.
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