A m a r c o r d

Assistiu mais uma vez ao filme de Fellini, Amarcord. Adorava esse filme porque lhe recordava sua infância e adolecência. Depois, sentado na velha cadeira de palhinha rangedeira, comeou a divagar lembrando o passado:

... A descoberta do sexo: fora uma maravilha, o desejo, a sensualidade, a tal "coisa feia". E tome exercício solitário sonhando com nove ente as dez estrelas mais sensuais de Hollwwood e todas naquela base... Recorria - ele e os amigos - também a fantasia com as musas bonitas e bem feitas da terrinha. Depois dessa fase solitária vinha a hora do "vamos ver!", ou seja, da prática. De repente procurava-se as Gradiscas (referência a do filme felliniano), mas erm Gradiscas modestas, mas que na Hora H, se lhe afigurva tão belas quanto Magali Noel (a Gradisca do filme). A zona à noite, tinha a aparência de um harém das mil e uma noites, cheio de luzes, às vezes ficavam coloridasdevido a papel celofane, suas damas vestidas de forma extravagante e todas pintadas e fazendo poses sensuais. Dava um arrepio nos iniciantes. Fe manhã o local parecia um arrudo sejo, acanhado, um fim de mundo, a realidade deletava o sonho. E as mulherss de dia eram comuns, apagadas, desaparecia o charme, o fascínio, nao erama mais Gadiscas. Mas à anoite o local era mágico e toda mulher parecia com Gradisca.

A religião: os padres aterrorizano, afirmando que a masturbação era um pecado mortal e que fazia perder a memória e enlouquecer. Dava um desespero danado essa mentira dos religiosos invejosos, mas os instintos, os sentidos, o desejovenciam esse terrorismo religioso, essa maldade dos padres. Arriscava-se ir para o inferno e também mandava-se essa mentira da perda da memória e da loucura apara a lata do lixo. O único medo, já no tempo do folgudo com as Gradiscas, era da injeção de Benzetacil.

O amor: este era mais difícil de driblar. Era um beque intransponível. O amor permeava a vida, grudava anela que nem muçum. Era a razão da vda. Nada fascinava mais que o amor. Sempre fora o sentimento mais importante. O amor tornava o adolescente um romântico incurável. ele fiava ingênuo, u sonhador, um Romeu. Como era gostoso viver o grande amor! O amor enlevava, aucinava, excitava. O amor era o mais gostoso frenesi. O amor era a marca registrada do passado.

O social: ah, ofascínio pelas ideias de esquerda. O sonho por uma sociedade mais usta, gualitária e fraterna. Uma sociedade sem humilhados e nem ofendidos, sem explorados e nem exploradores. Asiara pela vitória do sociaismo. Esse fascínio pelas idéias de esquerda só sofria um abalo quando era confrontado pelos folguedos próprios da idade. Nesse caso dava auma farrpada na ideologia. Anda adolescente, entendeu que viverera algo complexo, plural, diverso e que exigia liberdade.

Deu uma balançada na cadeira, lembrou do menino virando adolescente e do adolescente virando adulto, ms sem nunca deixar de ser o menino e calças curtas. Podia estar com os cabelos embranquecidos, cansado de guerra, meio bambo, vestindo roupas de adulto, pijama..., ser rico ou pobre, possuir títulos, riqueza, poder ou ser apenas um cidadão como ele, ensou, mas jamais deixaria de ser o menino de calças curtas. O menino sempre prevaleceria em qualquer ocasiaão, era esse menino que balizava suas opiniões, reações e emoções. Na verdade, ru e pensou, somos apenas o oleque de rua do passado, com ma bola de borracha ou de meia, bolas de gude, piões, calças crtas e pés descalços, sempre fazendo armações. A vida podia variar um pouco e mudar as pessoas, fertar-lhes riquezas, poder, refrear emoções e impingir outro tipo de cultura, mas deletaria jamais o menino que permanecia incrustrado em cada adulto, na sua mente e no seu coração. O menino era sua alma. Era parte do show d vida.

Sabia que a maturidade era apenas o amadurecimento do menino. Mas isso não apagava da memóriae nem fazia esquecer as raízes. Lembroua frase de um cronista: "O homem é tempo e saudade, o importante são as raízes, o que o segura é a memória". Olhou para aum retrato amarelecido na parede. Era de um menino de calças curtas sentado numa cadeira de vime, um menino de cara amarrada, mas u menino feliz. Um menino que, apesar das suas limitações e dos parcos recursos de sua família, sejulgava um nobre porque toda criança, seja qua for ela, é um nobre. A criança é o responsável pelo adulto.

Levantou e botou um velho disco na radiuola e Ataulfo Alves começou a cantar: "Eu daria tudo que toivesse/pra voltar aos tempos de criança/ Eu nao sei porque a gente cresce/ Se não sai da gente essa lembrança...", marejou os olhos de alegria e felicidade. E disse baixinho: Amarcord.

PS; Aarcord significa "eu me recordo". Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 11/02/2018
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