FAZENDO O CHORO VOLUPIAR ATÉ MORRER
Tenho sede de me entrelaçar nas pessoas
pelos fios das suas emoções,
pelos cheiros agridoce dos seus encantos.
Quero sentir onde desembocam seus medos,
suas vontades, seus reinos ainda não ungidos,
nem fecundados.
Imagino onde escondem seus recuos, seus escorregões,
como disfarçam aqueles risos mancos,
por vezes castrados, por vezes num coma sem fim.
Descobrir suas pegadas, baús trancados a sete chaves,
suores ainda não purgados, nem benzidos, nem arejados.
Tenho sede de saber por onde caminham suas dores,
aqueles fantasmas que deixaram sua alma bamba,
inundando de câimbras fazendo o choro volupiar até morrer.
Tenho ânsia de entender onde seus lixos se escondem,
os flancos descabelados chamados de fé,
as notas desafinadas chamadas de solidão.
Tenho pressa de denudar suas fronhas ainda caladas,
versos esquecidos no criado-mudo da paixão,
bater na porta das suas dúvidas até a pele ficar em carne-viva.
Tenho comichão de descobrir as pelancas chamadas de saudade,
aquelas asas roídas que não passam de escudos de algodão
assim ficarei minha vida toda tentando chamar pra dançar
em vão.
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