Necessidade e Fome

Havia na minha terra um sapateiro, um sujeito muito caladão, já velho, que quando moço lutara contra Lampião. Ele nunca falou nisso, mas muita gente comentava. Eu sempre passava na sua oficina que ficava num quartiho vizinho da casa do meu pai. Gostava de conversar com ele, mais falando que ele, o cara preferia ouvir, sempre pitando um cigarro de palha de fumo do sertão. Quando falava dizia grandes verdades. Um dia eu lhe perguntei: - "Mestre, Mané, qual foi a coisa mais feia que o senhor viu na sua vida?". Ele parou de batwer na sola, eu uma tragada no cigarro e respondeu: - "Oli, rapaizi, a coisa mais feia que vi na minha vida foi a fome!". Bingo! Uma verdade absoluta. Eu mesmo vira alguma vezes a invasão da cidade pelos flagelados da seca, aquelas pessoas famintas, magras, amarelas, com fome. Só nessas horas os mais ricos se tocavam, os poderes públicos, os políticos, se cotizavam para arrumar víveres para os esfomeados. faziam isso por medo e nunca por caridade. E os flagelados só invdiam as cidades por necessidade premente, não eram vãndalsos, preguiçosos, bandidos, mas seres humanos com fome.

Diz um provérbio chinês: "A necessidade é a mãe das invenções". Eu diria que ele justifica atos desesperado no caso da fome. O filósofo Noberto Bobbio disse: "A necessidade não tem lei. Ela está livre de toda lei, orque é a ei em si mesma". Exato.

Por isso mesmo é que defendi, defendo e defenderei os programas sociais. Eles podem não resolver definitivamente o problema dos pobres, mas retiram da absoluta miséria milhões de irmãos nossos. Quando vejo sujeitos frios e fascistas defendendo o fim dos programas sociais sei, de duas, uma: ou é ruim de berço ou nunca viu a fome. O sapateiro tinha razão: a coisa mais feia do undo é a fome. E a necessidade de comer justifica qualquer ato fora dos padrões das leis. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 06/02/2018
Código do texto: T6246692
Classificação de conteúdo: seguro