PERDOAR REJUVENESCE AS PEDRAS

Perdoar é como engolir algo bem maior do que a garganta.

Desce com com dificuldade, teimando, relutando, reclamando,

xingando, chutando tudo em volta.

Por vezes acontece a contragosto, como se obedecesse ordens

do inimigo, do pior inimigo que temos nessa vida.

Mas quando perdoamos aplaudidos pelos guidastes da alma,

muda tudo.

Purgamos assim nossos remendos, nossas

farsas, nossos roteiros sorrateiros.

O perdão vem com peito inflado, coluna erecta, voz de rei.

Perdoar com todos seus assentos ocupados glorifica a nossa

condição humana, coisa rara nos dias em que vivemos.

Perdoar abençoado e feliz rejuvenesce as pedras,

agrada Deus e respinga suores de paz.

Quem perdoa fincado numa certeza fica mais orvalhado,

mais arejado, menos vadio, menos podre.

Vale a pena perdoar quem nos machucou,

nos virou as costas, nos fez um mal danado.

Vale a pena perdoar quem nos pisou, nos cuspiu,

nos rasgou, nos mijou, nos chutou fora,

nos chacoalhou até não poder mais.

Vale a perna perdoar quem nos afundou,

nos destrilhou, nos mordeu até o último pedaço.

Vale a pena perdoar quem arrancou nossos cabelos,

afogou nossos sonhos, acabou com nossa paz.

Vale a pena perdoar quem esmigalhou nossa fé,

destroçou nossa alma, mandou nosso coração embora,

pra nunca mais voltar.

Vale a pena perdoar quem nos matou, nos envergonhou,

nos fez sofrer como nunca imaginamos ser possível.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 01/02/2018
Reeditado em 01/02/2018
Código do texto: T6242628
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